Resumo

26/06/2020
A classificação dos tipos de pés de forma estática em neutro, cavo e plano é uma abordagem comum na prática clínica atual, com o objetivo de identificar alterações morfológicas associadas a possíveis fatores etiológicos que podem levar a uma lesão e para orientar a prescrição de tratamento. No entanto, embora bem reconhecida na prática clínica e literatura ortopédica, os métodos baseados em análises estáticas não predizem a função dinâmica dos pés, além de não existir uma classificação totalmente aceita ou medidas padronizadas para determinar os tipos de pés. Isto determinou o desenvolvimento de um estudo de revisão sistemática para averiguar quais os métodos não radiográficos de avaliação dos pés válidos e/ou confiáveis. Ao considerar ainda a existência de divergências entre os métodos para classficar os tipos de pés, isto levou a realização de um segundo estudo para o desenvolvimento de um método para determinar os tipos de pés a partir da análise de medidas de Dimensão Fractal Multiescala (DFM) de imagens geradas a partir de pressões plantares em condições dinâmicas bem como avaliar a confiabilidade teste-reteste destas medidas. Para a revisão sistemática, foram incluídos apenas estudos que realizaram análise de confiabilidade e/ou validade de métodos não radiográficos e o risco de viés foi realizado por meio da Critical Appraisal Tool (CAT). Para análise da DFM, 208 voluntários (18 a 65 anos) de ambos os sexos foram submetidos a uma avaliação para coleta de imagens dos pés durante a marcha utilizando uma plataforma de pressão Baroscan®. Para avaliação da confiabialidade teste-reteste destas medidas, 72 participantes do estudo anterior foram submetidos a uma nova coleta nas mesmas condições após um período em torno de 7 dias. Os dados foram processados por um programa de computador em linguagem Matlab® para o cálculo das variáveis relacionadas a DFM (valor máximo e integral da média das cinco curvas DFM de cada passo e a série de dados das curvas de todas as tentativas). Estes dados foram submetidos a análise de confiabilidade teste-reteste calculado pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI3,k = two-way mixed model), com 95 % Intervalo de Confiança (IC 95%) e submetidos a análise de clusters k-means. Os resultados da revisão sistemática incluíram 26 estudos para síntese qualitativa. As inconsistências em relação à variabilidade das medidas, heterogeneidade dos métodos utilizados para determinar a confiabilidade e validade, a falta de parâmetros e de medida padrão-ouro para classificação dos tipos de pés dificultou a determinação de qual método de avaliação é válido e confiável. Assim, uma medida isolada de um teste não pode ser recomendada para a tomada de decisão clínica, dessa forma, baseando-se em valores de CCI, CAT e na presença de valores de referência disponíveis, a utilização em conjunto das medidas estáticas "Índice de Altura do Arco", "Índice de Postura do pé" e o "Índice do Arco de Staheli" podem ser sugeridas como uma opção. Em relação aos resultados da confiabilidade teste-reteste das medidas da DFM, o CCI foram excelentes para ambas medidas (valor máximo 0,96 IC 95 % [0,93-0,97] e integral 0,95 [0,92-0,97]). A distribuição entre grupos referentes aos resultados relacionados ao valor máximo da curva DFM e integral foram respectivamente: pés normais 1,219 e 2,567, com 85 % dos indivíduos neste grupo; pés planos 1,147 e 2,397, com 12 % dos indivíduos e pés cavos, 1,074 e 2,144, com 3 % dos indivíduos. A distribuição em relação a série de dados foi semelhante para o grupo de pés cavos (4 %), com uma proporção diferente entre pés normais (76 %) e planos (20 %). A aplicação da análise de DFM nas imagens geradas pelas pressões plantares é confiável e pode ser utilizada para avaliação dos tipos de pé principalmente para identificar o grupo de indivíduos com pé cavo. Este método demonstra-se promissor pois possibilita uma avaliação objetiva, de baixo custo e manejo operacional, realizado de forma dinâmica. Em relação as medidas disponíveis na literatura, a utilização simultânea das três medidas estáticas sugeridas na revisão sistemática podem ser uma opção até que os estudos envolvendo medidas dinâmicas possam ser definidas e apresentem valores normativos válidos e confiáveis.

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