Dia do Profissional de Educação Física. Homenagem a Ary Façanha de Sá
Integra
Numa sexta-feira de novembro de 2003 fui escalado para fazer uma reportagem sobre a 25ª edição dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs). Eu trabalhava no Correio Braziliense e, como repórter, frequentava pistas de atletismo, beira de piscinas, quadras de tênis, enfim. Conheci atletas, técnicos e, claro, gente que construiu a história esportiva em centenas de escolas, Brasil afora.
Nesse ambiente, não estranhei quando vi na abertura dos Jogos de 2003, em Brasília, um maranhense de 72 anos, formado em Educação Física, no Rio de Janeiro, conduzindo a tocha na solenidade de abertura do evento. Era Ary Façanha de Sá, que hoje merece ser homenageado, sem qualquer favor, como um ícone do Desporto Escolar no Brasil.
Ary não foi gestor-idealizador por acaso. Foi, antes, atleta exemplar. Como campeão brasileiro dos “saltos em extensão” – hoje salto em distância –, ele foi aos Jogos Olímpicos de Helsinque, 1952. A medalha de bronze lhe escapou por escassos sete centímetros.
Num dos encontros que tive com esse personagem, ele me contou:
“Depois do terceiro salto, naquela Olimpíada, a minha melhor marca era 7,23m, o que me garantiria o terceiro lugar. Mas... o húngaro Odon Foldessy partiu para a última tentativa e cravou 7,30m, frustrando o meu sonho de pódio”.
Sem lamentos, porque ainda hoje Ary Façanha de Sá está no pódio das homenagens que merece, pelo o que representou para esporte educacional brasileiro.
Na história, Ary é reconhecido por ter sido o idealizador da modernização dos Jogos Escolares, hoje Jogos da Juventude. Isso foi em 1970, quando ele era assessor de Desportos Estudantis, do Ministério da Educação. Até então, os Jogos eram mais para congraçamento, mas com a mudança tornou-se evento riquíssimo para a identificação de talentos.
Ary faz parte de uma geração que praticava educação física na escola, o que lhe incentivou a se formar em Educação Física. A cultura acadêmica ele juntou ao seu idealismo e levou tudo isso para aplicações práticas no MEC. No Ministério, ele discutia com uma “equipe de elite” os rumos de cada modalidade nos Jogos e, aos poucos, foi formatando as mudanças que tornaram os JEBs marca registrada do desporto escolar.
“Nunca fiz nada sozinho”, me disse Ary Façanha, certa vez. Seus amigos me garantem que ele valorizava o trabalho de equipe e que foi, sim, o grande “pensador” e “idealizador” da nova roupagem dos Jogos.
“Naqueles tempos”, não faltava dinheiro. Ensino e esporte avançavam juntos, e os Jogos tinham modalidade que hoje passam longe do programa: vela, ciclismo, esgrima, além das tradicionais provas de atletismo, natação etc.
A nova roupagem dos Jogos era tão ousada que técnicos alemães que aqui vieram ficaram encantados com a estrutura e dimensões dos JEBs. De tal forma, que essa organização contribuiu para que fosse assinado um convênio do governo brasileiro, permitindo o estágio de técnicos do esporte na Alemanha.
Mas, o tempo passou...
Assim, nesta data em que se presta justa homenagem aos profissionais de Educação Física, sinto-me orgulhoso, como jornalista das antigas, de prestar esta homenagem a esses profissionais e, em especial, ao Ary Façanha de Sá. Homenagem que não é minha, exclusiva, mas de teus amigos, Brasil afora. E sabes, Ary, que são muitos.
Sou o portador, Mestre Ary, do abraço de todos os teus colegas de ontem, parceiros entusiasmados de então, velhos seguidores, ainda hoje, dos teus exemplos, de teu entusiasmo e idealismo. São manifestações daqueles que te ajudaram na construção desse espetacular patrimônio esportivo, os JEBs. Eles também não te esquecem e te são muito agradecidos. Assim como foram gratos – me permita essa homenagem – ao nosso querido amigo Mário Cantarino, também idealista e idealizador, teu parceiro de tantas jornadas, e que nos deixou com saudade enorme.
Parabéns pelo teu legado, Ary Façanha de Sá.
Parabéns por tua valiosa contribuição na obra do nosso patrimônio esportivo voltado, antes, para a educação escolar.
Parabéns pelos exemplos, pela grandeza de tua humildade que ainda hoje te acompanha.
E, é tudo isso, Ary, que te coloca no pódio do nosso eterno e agradecido reconhecimento.
Grande abraço, Mestre.