Integra

Sabemos que são os seres humanos que fazem a hstória. Somos nós que transformamos as condições sociais, mudamos o mundo e nos modificamos, com nossas iniciativas, nossos acertos e nossos erros.

Considerada um marco na busca da educação inclusiva, A Declaração de Salamanca, assinada por 92 países, durante a Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais, em 1994 na Espanha, prega a necessidade de se reconhecer que a escola para todos é "um lugar que inclua todos os alunos e celebre a diferença".

Mas, como a tradição pedagógica da escola brasileira está estruturada para trabalhar com a homogeneidade, estamos diante de um grande desafio, congregar a uma formação do cidadão na diversidade de pessoas carregadas de traços comuns, mas sobretudo diferenciados. Estamos diante de uma nova realidade que inclui, mas tem a diferença como sua marca, como este novo desafio está sendo encarado pela escola e pelo professor de Educação Física? Será que é só a escola abrir as portas para todos?

I - A inclusão escolar

A educação inclusiva se caracteriza como processo de incluir os portadores de necessidades especiais ou com distúrbios de aprendizagem na rede regular de ensino, em todos os seus graus, pois nem sempre a criança que é portadora de necessidades especiais (deficiente), apresenta distúrbio de aprendizagem, ou vice versa, então todos esses alunos são considerados portadores de necessidades educativas especiais. Fonseca (1991) descreve os tipos de deficiência e suas características gerais:

" ..., a criança com paralisia cerebral apresenta essencialmente um problema de envolvimento neuromotor. Do mesmo modo, a deficiência mental apresenta uma inferioridade intelectual generalizada como denominador comum. Por um outro lado, na criança deficiente visual ou auditiva, o problema situa-se ao nível da acuidade sensorial. No que respeita à criança emocionalmente perturbada esta apresenta um desajustamento psicológico como característica comportamental predominante." (p.27)

Para essas crianças é necessário que se desenvolva uma prática educacional mais específica no sentido de ampliar as suas capacidades. Para cada deficiência é enfatizado um tipo de cuidado no trabalho educativo. A LDB nº 9394/96 em seu Artigo 58 diz que entende-se:

"Por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais."

A lei determina que a Educação Especial deve ser oferecida na rede regular de ensino, gerando uma modificação nos estabelecimentos de ensino e no sistema educacional.

Discutir educação no século XXI supõem uma atitude crítica frente aos exageros da sociedade do conhecimento, é preciso situar a importância da educação na totalidade dos desafios e incertezas de nosso tempo, portanto, pensar em educação inclusiva é um dos nossos desafios, mas contudo, não podemos e nem devemos desprezar, as questões pertinentes a sua prática no seio da nossa sociedade escolar. "A Declaração de Salamanca", retomou a discussão sobre educação especial na perspectiva de minimizar os abismos entre os humanos, partindo do pressuposto de "Educação para Todos", que vem sendo defendido mundialmente pela UNESCO.

Segundo Ceccon (1993, p.82), "... a escola está dentro da sociedade, quando mexemos na escola, estamos mexendo na sociedade."

Acredita-se que, a partir da escola inclusiva haverá uma maior aceitação das crianças com necessidades especiais pela sociedade, não se pode mais ignorar a urgência de universalização da cidadania, que, por sua vez, requer uma nova ética e, por conseguinte, uma escola de educação e também de cidadania para todos.

II - E a educação física escolar neste novo contexto?

A educação física escolar, até décadas atrás apresentava um modelo em que a aptidão física e desempenho eram o mais importante, desprezando muitas vezes os aspectos sociais, cognitivos e afetivos. Apresentava um modelo excludente, por considerar a sua ênfase em métodos de ensino que leva o aluno a trabalhar a técnica de forma primorosa através de repetições dos movimentos e sua preocupação com a participação de todos os alunos não representava a sua meta.

Com os avanços teóricos na Educação, e também na Educação Física, novas abordagens forma surgindo, e a LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais hoje, vêm contribuindo para levar a disciplina a um lugar de destaque na "formação de cidadãos críticos, participativos e com responsabilidades sociais".

A LDB em seu artigo 26 no parágrafo 3º diz que a Educação física está integrada a proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às condições da população escolar. Partindo do princípio que um dos objetivos gerais de Educação física no ensino Fundamental é que a criança através de atividades corporais conheça a si próprio e aos outros e principalmente que respeite as individualidades, para Seybold (1994)

"Quanto mais claramente se considerar a missão educativa da educação física, tanto mais importante se tornarão os fatores psíquicos, a evolução da forma de aprender e pensar da criança, dos interesses dos jovens, das formas de ação e de sociabilidade ."(p.18)

Desta forma, o professor não pode dispensar a oportunidade destes alunos em participar da aula, pois mesmo o aluno sendo deficiente físico, mental, auditivo, visual, múltiplas e até mesmo apresentando condutas típicas (que são os portadores de síndromes, quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos) eles têm necessidades de fazer atividades que desenvolva a sua relação social, motora e afetiva.

Há estudos em educação física como também na área de educação especial que comprovam que os alunos com necessidades especiais separados de alunos "normais", apresentam um resultado inferior, do que se ele estivesse incluído. Cruz (1997) em sua tese intitulada "Classe especial e Regular no contexto da Educação Física: Segregar ou Integrar?" exemplifica com a aplicação de ginástica, jogos, voleibol, basquetebol, futsal, handebol e outras atividades em uma turma de RM (designação atribuída pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro às turmas compostas por alunos portadores de Deficiência Mental),que há uma diferença significativa, ou seja, os alunos portadores de necessidades educativas especiais integrados, apresentam um resultado superior do que se eles estivessem segregados, ou os outros ditos normais isolados.

As novas tendências pedagógicas trazem para os educadores uma forma de melhor aprimorar o seu trabalho, no Brasil os Parâmetros Curriculares Nacionais para Portadores de Necessidades Especiais, vem a refletir e atender aos anseios da formação Inclusiva.

O papel da educação física dentro de uma Educação Inclusiva é fundamental, nos faz refletir que é possível realizar uma integração na formação dos humanos, mas para isto é preciso uma mudança de atitude frente a uma realidade individualista e competitiva, querer e estar disposto a modificar a concepção da sociedade e a própria visão de mundo dos professores é tarefa necessária.

III - A pesquisa de campo

Este estudo se caracteriza como uma pesquisa exploratória no campo de investigação da Educação Física Inclusiva, uma vez que realiza uma aproximação da temática com a realidade cotidiana dos professores de Educação Física, com o intuito de levantar seu discurso sobre a Educação Física Escolar Inclusiva. O design utilizado foi o da pesquisa de levantamento, onde 16 professores que atuam no ensino fundamental, foram interrogados através da técnica de entrevista. Estes professores pertencem a instituições públicas e particulares situadas na Zona Norte e Oeste do Município do Rio de Janeiro. A análise do discurso foi o referencial teórico-metodológico para se discutir as falas dos professores sobre a Educação Física Escolar Inclusiva. A questões centrais do roteiro apresento a seguir:

IV- O discurso dos professores sobre a educação física inclusiva

Diante das informações coletadas nas entrevistas realizadas com os professores de Educação Física, na sua grande maioria com experiência superior a 5 anos em educação física escolar foi possível levantar alguns discursos, que legitimam as dificuldades de se alterar as mentalidades apenas a partir de novas propostas.

A maioria dos professores tem conhecimento das novas perspectivas da educação, afirmam "trabalhar com a Educação Inclusiva em suas aulas", e ratificam em suas falas que "nenhum de seus alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais são dispensados das suas aulas". Estes professores declaram que, "quando necessário eles também fazem adaptações para que esses alunos participem", sendo assim pensam que a participação deles é importante fazendo com que haja uma integração já que eles realizam atividades junto com outros alunos.

Na questão que versava sobre a dificuldade dos professores em adaptar suas aulas? Apenas 5 de 16 disseram que "não", porém 11 de 16 disseram que " sim",mas tem dificuldades em adaptar as aulas. Esta entrevista também pode captar no discurso deste grupo de professores entrevistados que "a reação dos alunos ‘normais’ é boa", e um dos professores ressaltou que: " ... são crianças, e sabemos que elas não são preconceituosas como pode parecer, o adulto tem uma participação negativa nessa história toda, com certeza."

Na entrevista realizada com os professores, foi possível perceber também o tipo de apoio que esses tinham da escola para desenvolver a Educação Inclusiva; ficou claro que a escola está dando o apoio necessário na experiência destes docentes, eles tem trabalhado junto aos outros profissionais, como os da área de orientação pedagógica, e tem participado de Cursos e Congressos sobre o tema.

Mas em uma das questões, considerada chave nesta entrevista, que foi verificar se a Educação física para os Portadores de Necessidades Educativas Especiais devia continuar sendo " Educação Física Adaptada"? Para a surpresa da pesquisadora, diante de respostas tão otimistas no desenrolar das entrevistas, não se esperava que a maioria dos informantes dissessem que "sim".

Acredita-se que os professores não fizeram a distinção ainda entre os conceitos de Educação Física Inclusiva e Educação Física Adaptada", ou seja o debate e a continuidade dos trabalhos junto aos profissionais é muito importante para a conquista de uma nova mentalidade junto a escola brasileira do que seja alcançar a formação de jovens integrados e com seus preconceitos reconceituados.

V - Conclusão

Com este trabalho pôde-se observar que há possibilidade de se trabalhar a educação inclusiva nas aulas de educação física, partindo do princípio que a escola deve estar disposta a receber e principalmente desenvolver este novo sistema, pois não basta somente à escola aceitar, se os professores, os administradores e até mesmo as comunidades escolares ainda não estiverem preparadas para a sua realização. A pesquisa empírica demonstrou que os professores tem recebido apoio, mas a questão que fica é, será que eles têm realmente trabalhado os conceitos sobre os Portadores de Necessidades Educativas Especiais? Já que eles acham que a Educação Física para esses alunos deve continuar sendo Adaptada. Ou será que Educação Inclusiva na representação destes professores ainda está centrada unicamente nos alunos deficientes.

Obs. A autora, professora Flavia Fernandes de Oliveira é pós graduada pela UGF e este trabalho foi orientado pela professora Ludmila Mourão do PPGEF da UGF


Referências bibliográficas

  • Ceccon, V. Escola da Vida e Vida na Escola. Petrópolis, Ed. vozes, 1993.
  • Cruz,G. Classe Especial e Regular no contexto da Educação Física: Segregar ou Integrar?. Londrina, Ed. UEL, 1997.
  • Fonseca, V. Educação Especial. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas,1991
  • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394/96.
  • Parâmetros Curriculares  Nacionais, Brasília: MEC/SEF,1997.
  • Parâmetros CURRICULARE NACIONAIS: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, Brasília: MEC/SEF/ SEESP,1999
  • Seybold, A .Educação Física Princípios Pedagógicos. Rio de Janeiro, Ed. Ao Livro Técnico, 1994.
  • Unesco, Declaração de Salamanca,http://www.spn.pt /notvar.