Integra

GIBSON, Althea; FITZGERALD, Ed. I always wanted to be somebody. New York: Harper, 1958.

A recente morte de George Floyd em fins de maio de 2020, um negro estadunidense morto injustamente por um policial branco, levantou a questão não resolvida para a sociedade contemporânea acerca do racismo estrutural. Ondas de protesto mapearam os estados norte-americanos, vários países da América Latina (incluindo o Brasil) e, igualmente, inúmeros sítios da União Europeia. A problemática do racismo deveria ser encarada de frente em todas as partes, inclusive no esporte. Tal situação me lembrou da autobiografia de Althea Gibson, I always wanted to be somebody (Sempre quis ser alguém).

Althea tinha um estilo agressivo de jogar, incomum se comparado ao de outras jogadoras brancas da época. Nos relatos sobre sua trajetória como atleta fica claro que Althea adotou o tênis, não os valores burgueses da classe média/alta americana (particularmente branca) que o envolvia. Nos anos 1940, quando jogava, não se identificava com a cultura esportiva propagandeada pelo Cosmopolitan (local para o afro-americano médio equivalente ao de um clube de tênis para branco), isto é, de portar-se como “boa atleta” para mostrar aos brancos que afrodescendentes também podiam ser obedientes ao praticar a modalidade. O sucesso viria anos mais tarde, quando passa a ser reconhecida como a “primeira jogadora negra” de tênis de todos os tempos (inclusive na Europa, devido ao período em que viveu entre França e Inglaterra, sendo parceira de Angela Buxton). Althea foi uma atleta extremamente talentosa, jogadora bem-sucedida de tênis durante os anos 1950-60 nos EUA (e mais tarde, jogadora profissional de golf).

Veio de uma família pobre e se destacou no tênis em um momento histórico em que, infelizmente, a modalidade não pagava muito. No auge do racismo nos EUA, ela nem podia se trocar de roupa nos vestiários femininos dos locais em que jogava, simplesmente por ser uma mulher negra. Como o tênis não lhe sustentou permanentemente, em 1964 mudou de ares: tornou-se a primeira afro-americana mulher da Associação Profissional Feminina de Golfe. Passou pelo tênis, passou pelo golfe e, mesmo assim, foi esquecida e negligenciada pelo mundo esportivo. Nos anos 1990 a depressão a fez pensar em suicídio e a amiga Buxton foi quem a ajudou.

Esta é a mensagem deste livro que hoje indico na coluna: precisamos valorizar bons/boas atletas, independentemente das cores de suas peles. Devemos observar o ser humano que se lança no desafio de uma modalidade esportiva, sem julgamentos de valor ou preconceitos de quaisquer ordens.