Resumo

Este trabalho busca analisar, a partir de um olhar comparativo, os Jogos Olímpicos Latino-Americanos de 1922 no Rio de Janeiro e os Jogos Bolivarianos de 1938 em Bogotá. Tendo em vista que o primeiro evento foi realizado como parte dos festejos do centenário da independência do Brasil, enquanto o segundo se incluiu nas comemorações dos quatrocentos anos da capital colombiana, Bogotá, entendemos que esses objetos nos propiciam a possibilidade de, pelo esporte, problematizar como foram pensadas as ideias de nação nesses dois países. Além disso, destacamos nesta pesquisa a importância do contexto internacional na construção das identidades nacionais, tanto de Brasil quanto de Colômbia. As relações internacionais e diplomáticas construídas no decorrer dos dois eventos, se fizeram determinantes para efetivar essas construções. Além do anfitrião Brasil, os Jogos Olímpicos Latino-Americanos de 1922 contaram com a participação de Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e México. Dentro de um cenário em que o debate sobre o pertencimento ou não do Brasil a América Latina se fazia presente, a realização de um evento dessa natureza no país se explicitou como um momento peculiar para aflorar as questões diplomáticas com os vizinhos da região. Já os Jogos Bolivarianos de 1938 tomaram parte, além da Colômbia, a Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e Panamá. Nesse evento, que ocorre até os dias atuais e teve na edição de 1938 seu primórdio, participaram as nações que fazem parte da região entendida como “bolivariana”, ou seja, o conjunto de países que consolidaram suas respectivas independências no século XIX tendo Simón Bolívar como principal líder. Para esta pesquisa, além da utilização do arcabouço teórico da História Comparada enquanto perspectiva metodológica, utilizamos como fontes alguns periódicos das duas cidades, Rio de Janeiro e Bogotá, como forma de analisar as construções e os discursos difundidos pela imprensa do período acerca dos dois objetos. Jornais como os cariocas Jornal do Brasil, Correio da Manhã e O Imparcial, assim como os bogotanos El Tiempo, El Nuevo Siglo e El Espectador, foram analisados. Consideramos, como hipótese, que a “idealização da nação” nos países aqui investigados, ocorreu de forma distinta em cada caso. Nos jogos de 1922, ficou explicito a diferenciação do Brasil em relação aos outros países da região, tendo em vista as diferenças culturais e o debate acerca do pertencimento ou não do país a América Latina, mesmo tendo sido o evento uma forma de aproximação diplomática com as nações vizinhas. Enquanto isso, nos jogos de 1938, se faz evidente a proximidade identitária da Colômbia com as outras nações participantes do evento, tendo em vista a questão bolivariana que marcava um ponto cultural comum entre todos esses países.