Resumo
O objeto desta pesquisa é a investigação e criação de um dispositivo para processo de criação artística em Dança, o DMV (direção múltipla virtual), dispositivo digital de composição colaborativa e interativa em Dança processual. Concebido por mim, artista da Dança de Florianópolis/SC, o DMV tem o intuito de desenvolver novas corporeidades e dramaturgias em Dança partindo do corpo e suas subjetividades, em um contexto de pouca aderência do público em geral aos trabalhos de Dança Contemporânea. O funcionamento do DMV ocorre com a colaboração de pessoas dispostas a atuarem no processo criativo, a partir da exposição de minha Dança em forma de videoexperimentos, postados em redes sociais digitais, perguntando, a respeito dos vídeos, a quem quiser responder: o que você vê?; o que você sente?; para onde devo ir? O processo criativo tem ainda o objetivo de ampliar a discussão a respeito do corpo na contemporaneidade, especificamente o corpo de mulher, que é o corpo presente na cena. A interatividade é o ponto-chave do trabalho, já que a obra se realiza no ato em que as pessoas colaboradoras colocam em palavras aquilo que foi visto, configurando o DMV como uma obra-dispositivo: uma obra que se faz no fazer, que se realiza como obra já no processo de feitura, e não apenas quando atinge uma forma que satisfaça o formato de obra acabada. O DMV é, portanto, uma proposta de arte relacional (Bourriaud, 2009), que dialoga com o conceito de obra aberta, de Umberto Eco (1968) e com a lógica de forma formante e forma formada, de Luigi Pareyson (1997). Trata-se de uma pesquisa guiada-pela-prática (Haseman, 2015) e autobiográfica, em que a performance solo é possibilidade de produção de um corpo político, relacional, atravessado pela memória pessoal, quando é também memória coletiva. O trabalho apresenta reflexões acerca dos comentários das colaboradoras sobre os seis videoexperimentos produzidos ao longo desta fase da pesquisa e das diversas questões que atravessam o percurso criativo.