Resumo

Estudos afirmam que o futebol é um dos maiores símbolos da identidade nacional brasileira. Por isso, foi e é tomado como objeto em diversos estudos inscritos nas Ciências Humanas. Contudo, o futebol ainda não foi devidamente estudado pelos lingüistas. Tendo em vista essa conjuntura, além de tentar promover a aproximação entre o futebol e os estudos lingüísticos, o objetivo principal desta pesquisa é avaliar como o discurso da crônica futebolística exerce um poder regulador na construção discursiva da identidade do futebol brasileiro e da identidade nacional brasileira durante as Copas do Mundo de 1994 e 1998. Para tanto, analisamos discursivamente, com base no aparato teórico e metodológico da Análise do Discurso de linha francesa, representada notadamente por Michel Pêcheux e Michel Foucault, um arquivo de crônicas futebolísticas publicadas no jornal Folha de S. Paulo por ocasião das Copas supracitadas. Para compor o arcabouço teórico que sustenta esta pesquisa, lançamos mão de algumas das categorias-chave da AD francesa – tais como, formação discursiva, processo discursivo e memória discursiva –, dos conceitos de poder, saber, subjetividade, arquivo e acontecimento – todos discutidos por Foucault (1986, 1992, 1995, 1996, 1997, 2000) –, das reflexões teóricas sobre o conceito de identidade produzidas no interior da Sociologia e da Antropologia por Boaventura de Sousa-Santos (2001), Suely Rolnik (2000) e Stuart Hall (2001), e também da noção-conceito de trajeto temático, proposta por Guilhaumou e Maldidier (1994). A partir da leitura sustentada pelo conceito de trajeto temático, verificamos, nas crônicas, como os sintagmas “Brasil”, “seleção brasileira”, “futebol brasileiro” e outras expressões com significados semelhantes foram preenchidos de modo a construir, no e pelo discurso da crônica futebolística da Folha, uma identidade nacional para o futebol brasileiro e para o Brasil.

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