Resumo

A expansão da Educação Infantil no Brasil foi bem intensa nas últimas décadas e ocorreu atrelado à aceleração no processo de urbanização, ao ingresso da mulher (mãe) no mercado de trabalho e a restruturação das famílias. A criança tem ido cada vez mais cedo para escola. Assim ficamos inquietos com relação ao papel das instituições de educação infantil e como esta deve ser desenvolvida, já que tem oscilado entre o cuidar e o educar, privilegiando o cuidar. Partindo do princípio que a educação se dá no e pelo corpo das crianças, neste estudo temos como objetivo verificar os discursos sobre a visão de corpo e a abordagem da educação corporal das profissionais que atuam na sala de aula na educação infantil. Além disso, buscamos analisar publicações oficiais sobre as políticas públicas e diretrizes da EI no Brasil para: verificar o que é dito sobre o corpo e como se norteia a Educação corporal; identificar a concepção de educação do corpo e movimento na educação infantil em produção acadêmica da área e como o discurso corporal das profissionais é constituído e se estabelece na educação do corpo das crianças e na maneira de lidar com as crianças que apresentam limitações corporais. Trata-se de um estudo de caso, referente a uma dada cidade do interior de São Paulo, no qual participaram 26 professoras que atuam na Educação Infantil Municipal e participavam de um curso de formação continuada realizado por uma universidade daquela cidade. Realizamos entrevistas semiestruturadas com questões que versavam sobre: compreensão de corpo e de movimento, relação com o próprio corpo e o movimentar-se, entendimento de imagem, esquema e consciência corporal, noção de corpo trabalhada com as crianças e trabalho executado ante limitações corporais das crianças e fizemos a análise do discurso, baseada na vertente francesa para desvelar o significado observando as condições sócio históricas de produção. Os resultados apontam para o entendimento do corpo como máquina (utilitário), o corpo dicotômico e consequente valorização cognitiva. Evidenciam que a compreensão de corpo e movimento influencia no relacionamento do “sujeito”, no mundo e a forma como o discurso capitalista controla essas relações. Apesar do caráter utilitarista dado ao corpo, identificamos que há espaço para o corpo brincar e também que há tentativas de incluir as crianças com diferenças corporais e que estas oscilam entre modificar a realidade ou contribuir na sua manutenção. Entretanto é imprescindível reformular as estruturas que envolvem o processo de formação docente (propostas pedagógicas, currículos, formação continuada, condições de trabalho, dentre outros.) Tal qual é fundamental a participação de profissionais que disponham do repertório necessário para atuar na Educação Infantil. Por isso a necessidade de políticas públicas que possibilitem discutir uma educação corporal que considere a integralidade do ser. Além disso é indispensável o desenvolvimento de atividades corporais com as professoras para possibilitar a sua descoberta e reconhecimento corporal. Da mesma forma que se aprende pelo corpo, também se ensina através dele. Bem como é iminente o aprofundamento de estudos in locu para verificar como tem se desenvolvido a educação corporal na educação infantil, levando em consideração as crianças, os ambientes e demais sujeitos responsáveis pela Educação Infantil para que possamos construir propostas pedagógicas que contemplem efetivamente as necessidades das crianças pequenas.

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