Resumo
Objetivos: Poucos estudos estimaram o dispêndio energético (DE) de sessões de treinamento funcional (TF), nenhum deles envolvendo praticantes recreativos da modalidade. Essas informações seriam úteis para o melhor entendimento do potencial do TF como estratégia para alcançar níveis de atividades físicas adequados para promover saúde e bem-estar. O objetivo da presente Tese de Doutoramento foi quantificar o DE durante sessões de TF por meio de acelerometria triaxial, em adultos sem experiência prévia com a modalidade, em ginásio comercial na Cidade de Maputo (Moçambique). Além do DE, a intensidade (relativa e absoluta) e percepção subjetiva do esforço (PSE) nas sessões de TF foram aferidas. Os resultados em TF foram comparados com sessões de caminhada contínua (CAM). Métodos: Inicialmente, estimativas do DE com acelerômetros utilizados no punho, perna e cintura foram comparadas com o gasto calórico fornecido por calorimetria indireta aferida por telemetria (n = 10 homens, 25 ± 3 anos, 173,0 ± 4,1 cm, 83,5 ± 15,7 Kg). Os resultados desse estudo piloto indicaram que o local ideal para a estimativa do DE com acelerômetro triaxial ActiGraph GT3X® seria a cintura (r=0,84, P = 0,005; diferença média de acelerometria vs. calorimetria = -0,445 kcal). A amostra do estudo principal foi composta por 25 voluntários (11 homens, 16 com sobrepeso/obesidade, 38,8 ± 9,3 anos, 168,5 ± 8,5 cm, 73,9 ± 13,8 Kg), que realizaram três sessões de TF separadas por intervalos de 48 h, as duas primeiras consistindo em sessões de familiarização. O protocolo de TF incluiu quatro passagens em circuito com 12 exercícios executados em máxima intensidade durante 20 s, com 10 s de intervalo entre cada estação. O DE (kcal derivado dos counts) e intensidade absoluta das atividades (counts/min) foram calculados por meio da acelerometria. A intensidade relativa foi estimada pelo percentual da frequência cardíaca de reserva (%FCR) registrado em cardiofrequencímetro e a PSE através da Escala de Borg CR-10. As sessões de CAM tiveram duração de 25 min, sendo DE, intensidade e PSE estimados pelas mesmas técnicas aplicadas em TF. Resultados: As sessões de TF duraram em média 24 min e o DE situou-se entre 124-292 kcal (188 ± 41 kcal), correspondendo a intensidades de 5-8 METs (6,1 ± 0,6 METs) e 70-80% (74 ± 8%) da FCR. Tanto DE quanto %FCR mantiveram-se estáveis na maior parte do TF. Já a PSE elevou-se ao longo das passagens no circuito, evoluindo de valores compatíveis com intensidade moderada para vigorosa. O DE foi similar em TF e CAM, mas a intensidade relativa média foi maior em TF (74% vs.55% FCR, respectivamente; P = 0.0001). Atividades vigorosas predominaram vs. moderadas nas sessões de TF e CAM. Todavia, a PSE foi sempre maior em TF (Borg 5 a 8) do que em CAM (Borg 3 a 5). Conclusão: Sessões de TF aplicadas em ginásio na cidade de Maputo foram capazes de elicitar DE e intensidade compatíveis com o recomendado para reduzir o risco cardiometabólico e melhorar a capacidade cardiorrespiratória em participantes recreativos normoponderais e com sobrepeso.