Resumo

É cada vez mais importante fazer referência à postura ética do treinador de futebol, tanto dentro como fora do campo. A sua presença deve educar, respeitar e responsabilizar-se pelo homem que está em cada atleta, compreendendo as suas fraquezas, aspirações e desilusões. Um treinador deve pautar-se por uma cultura de exigência e perfectibilidade, respeitando sempre as formas morais, espirituais e corporais do seu atleta. O seu labor não passa somente pela visão do modelo de jogo que quer implementar; pela ministração dos programas, das técnicas e das táticas exploradas no treino; o seu ideal deve também adentrar-se pelo campo da partilha, do compromisso, da justiça e do respeito na formação de homens autónomos e participativos. Por isso, o treinador é um pedagogo no momento em leva dentro de si o cuidado, o comprometimento e a disponibilidade. O treino é na sua essência uma relação pedagógica: uma relação de labor, cumplicidade e disciplina. É o diálogo do/no treino que fomenta a prática desportiva preocupada, plena, proba e que no entender de Jorge Bento (2004, p. 147): “não pode deixar de ser presidido por ideais pedagógicos, tais como a formação, desenvolvimento e autonomia dos atletas. E isto exige do treinador um apurado sentido de responsabilidade e de fidelidade a tais ideais”. Sabe-se que esta sensibilidade que inspira o atleta a conhecer-se e a ser sempre mais e melhor dentro do campo, não é uma qualidade universal a todos os treinadores, já que muitos não levam dentro de si o entendimento de agir ética e virtuosamente aquando da relação com o atleta. No entender de Agostinho da Silva (1944) um mestre não é mestre quando evita ir de coração aberto ao encontro dos homens. As relações de confiança nascem com base no respeito, na lealdade e na nobreza de carácter. Ser mestre implica ser humano, ser exemplo de rigor, serenidade, humanidade e compreensão. Sabe-se que o futebol é vivido a uma velocidade estonteante. Parece não existir tempo para discutir estas questões de natureza ética. O que realmente importa é o resultado, não se pensando na importância do processo e do planeamento rigoroso e a longo prazo. O ganhar a todo o custo parece ser o lema do momento. Caímos irremediavelmente na era do vazio de que nos fala Lipovetsky (1989). Está na hora de mudar o estado das coisas e de apostar definitivamente numa formação mais efetiva para treinadores, onde estas questões de cariz mais pedagógico e ético sejam tratadas com a relevância que merecem. Não nos podemos esquecer que um profissional excelente reúne em toda a sua plenitude a excelência da essência humana com a excelência
da essência profissional/conhecimento. Só assim é possível pensar, sentir e viver o futebol com autenticidade e sentido.

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