Integra

introdução:

como o corpo vem sendo compreendido na educação física? quais as possibilidades de configuração do conhecimento da educação física a partir das práticas corporais? com o objetivo de contribuir para a argumentação entre epistemologia e educação física, interpretamos os discursos e os sentidos das diferentes contribuições referentes ao corpo e às práticas corporais, considerando o modo como essa discussão tem ocorrido na produção contemporânea da educação física brasileira, a partir da análise dos anais dos congressos brasileiros de ciências do esporte, conbrace’s. compreendemos o corpo humano como um território biocultural, cuja condição de existência agrega símbolos, valores e conhecimentos e entendemos que as práticas corporais constituem-se como usos do corpo significativos em diferentes sociedades e épocas históricas e, como tal, potencializadores de enunciações sobre a linguagem do corpo na educação física. esta pesquisa torna-se relevante por apontar perspectivas de articulação entre os saberes e as práticas da educação física, colocando-se como uma necessidade não apenas epistemológica, mas também para a formação profissional.

metodologia:

utilizamos como técnica de pesquisa a análise de conteúdo. escolhemos como documentos de análise os artigos referentes à temática do corpo e das práticas corporais presentes nos anais dos conbrace’s, considerando os grupos de trabalhos temáticos epistemologia e memória, cultura e corpo. no interior dos conbrace’s, a criação dos gtt’s se deu no ano de 1997, propiciando uma qualificação dos debates e um aprofundamento das reflexões em pauta. analisamos 51 artigos, sendo 26 artigos do gtt epistemologia, nos períodos de 1997, 1999 e 2001 e 25 artigos do gtt memória, cultura e corpo, nos dois últimos anos citados, uma vez que este só foi criado no ano de 1999. a escolha dos gtt’s refere-se à possibilidade de perceber, em suas ementas, argumentos significativos para a análise do nosso objeto de pesquisa. procedemos à organização do material ou pré-análise através da confecção de fichas de conteúdo. a partir das informações contidas nestas fichas foi possível a construção de unidades de registro e de contexto. a leitura dessas unidades propiciou a criação de núcleos de sentido, permitindo-nos uma representação e descrição de características referentes ao universo do corpo e das práticas corporais. a partir das unidades de sentido, construímos uma matriz epistemológica que propiciasse uma leitura transversal da temática, com ênfase na estrutura lógica e nas relações entre os saberes e as práticas do corpo.

resultados:

identificamos três temáticas recorrentes: o corpo histórico e social, o corpo como sujeito da existência e as práticas corporais. a primeira reúne artigos que apresentam um panorama histórico do corpo e de suas concepções em diferentes sociedades e épocas. alguns destes artigos apontam críticas ao processo de fragmentação do corpo, a partir do dualismo retratado na filosofia de descartes e platão;

da imagem como referência de construção da realidade na modernidade; da medicina do esporte e do esporte de rendimento; havendo também críticas ao processo de fragmentação do campo acadêmico da educação física. a segunda categoria inclui artigos que apontam novas perspectivas para a área, tendo como principal referência os estudos do filósofo merleau-ponty. a temática das práticas corporais, reúne artigos que tratam de diferentes manifestações que configuram a cultura de movimento. no gtt epistemologia, apenas 8 artigos refletiram sobre a temática das práticas corporais, ganhando destaque a ginástica, seguida pelo esporte; a dança; os jogos; a capoeira, a patinação artística e o nado sincronizado. no outro gtt, 18 artigos refletiram sobre esta temática, ganhando destaque a ginástica, seguida pelo esporte; a dança; a capoeira, os ritos de passagem das sociedades primitivas; os batuques dos negros do século xix e o teatro. as produções apresentam contextos e referências significativas para pensarmos sobre o conhecimento do corpo na educação física.

conclusões:

a nossa investigação aponta para horizontes de compreensão acerca do corpo e das práticas corporais, como núcleos de uma construção teórica na educação física, possíveis de constituir objetos de pesquisa dessa área. destacamos os conbrace’s como um fórum significativo, que tem favorecido a reflexão sobre a educação física como área acadêmica, contribuindo para o debate acerca do seu campo teórico, através do desenvolvimento de diferentes pesquisas. esse texto não se constitui como uma fala acabada, fechada ao diálogo e a novas reflexões, pois o universo do conhecimento do corpo e das práticas corporais é múltiplo de significados.

compreendemos que a partir desse campo de possíveis encontra-se alguns desafios para a educação física em sua produção acadêmica e em sua intervenção profissional. esses desafios apresentam-se como limite e perspectiva do próprio conhecimento, ao tematizarem o conhecimento do corpo e das práticas corporais inseridas em diversos contextos. as produções apresentam referências lógicas e argumentativas advindas de diferentes disciplinas científicas e abordagens filosóficas, o que amplia compreensões, mas exige rigor, aprofundamento e uma razão aberta ao diálogo. esse mapa cognitivo aponta para a necessidade de ampliarmos o diálogo entre as abordagens do conhecimento por meio de estratégias de produção do conhecimento mais amplas, no sentido de transversalizar conceitos, métodos, referências e atitudes.