Do Lazer Convencional a Outras Formas de Diversão: Entendimentos Que Conduzem o Lazer na Periferia de Belém (pa)
Por Flavio Henrique Souza Lobato (Autor).
Resumo
Historicamente, no contexto globalizado, capitalista e eurocêntrico, foram concebidos conceitos e práticas próprios de uma concepção hegemônica de lazer, a qual conformou entendimentos convencionais do que seria, de como deveria ser e em que espaços e tempos deveria ocorrer o lazer, bem como quem dele poderia ser beneficiário. Diante disso, o presente trabalho objetivou analisar as experiências e os entendimentos que conduzem o lazer de uma comunidade periférica de Belém-Pará-Brasil. Metodologicamente, a partir de uma abordagem qualitativa, foram empregadas pesquisas bibliográfica, documental e de campo. Em um exercício do fazer etnográfico, foram realizadas conversas informais, observação participante, entrevistas semiestruturadas e anotações em caderno de campo. Entre os resultados, evidenciou-se que os moradores dessa periferia, frequentemente, associam o lazer a pelo menos cinco aspectos: 1) dinheiro – somente pode usufruir do lazer quem pode pagar por ele; 2) tempo – quem não trabalha ou não tem uma rotina muito cansativa consegue ter tempo para o lazer; 3) espaços – praças, orlas, parques de diversão, cinemas, shoppings etc. foram apontados como sinônimos de lazer; 4) práticas opostas ao trabalho – descanso, repouso, ficar em casa sem fazer nada, viajar, jogar futebol etc.; e 5) sentimentos, sensações ou emoções – diversão, alegria, felicidade, satisfação etc. No geral, essas e outras narrativas, em grande parte, fazem referência à lógica do lazer convencional, a qual chega numa comunidade periférica de Belém-Pará, denominada “Mata Fome”, por meio da mídia e das ações governamentais, que ditam o que é e o que não é, o que pode e o que não pode ser considerado lazer. Mais contemporaneamente, as redes sociais alimentam a vontade incessante por festas, viagens e cruzeiros marítimos para se desfrutar das experiências de lazer. Desse modo, muitas vezes guiados por essas visões totalizantes, os moradores da periferia de Belém – Pará não conseguem enxergar ou considerar as suas experiências cotidianas como uma forma de lazer. Com efeito, a compreensão, o desejo e a luta pelo direito ao lazer são, com frequência, circunscritos a determinadas formas legitimadas socioeconomicamente como lazer.