Resumo

O corpo desportivo apresenta-se como um elemento de primordial importância na compreensão da estética do desporto. A fruição, o agrado ou o gozo, o desprazer, a insatisfação ou o desinteresse experimentados por aqueles que testemunham as práticas desportivas, derivam em boa medida da capacidade que o corpo atlético manifesta em comunicar por meio das acções técnico-tácticas, convertendo essas acções em performance desportiva. O ser que habita o mundo do desporto, o desportista, fá-lo pelo corpo, que esboça e traça no espaço e no tempo a configuração do movimento desportivo. Em certa medida próximo do artista, o desportista constrói e define, sente e conhece o universo do desporto, dá-se a apreciar e a compreender ao público, justamente com e pelo corpo. Pensar o corpo desportivo foi algo que fez parte da matriz da obra académica de Paulo Cunha e Silva (1962- 2015). No início da década de 90 do século passado, quando os discursos sobre o corpo se multiplicavam na conjuntura filosófica, antropológica e social, o médico que adoptou fenomenologicamente a elocução de Abel Salazar, Um médico que só sabe medicina, nem medicina sabe, emergiu como uma das principais figuras portuguesas a reflectir acerca do protagonismo do corpo no desporto. No contexto universitário (a partir da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto) ou fora dele, Paulo Cunha e Silva contaminou os mais diferentes palcos culturais com a sua corporologia. Profundamente comprometido com a arte de pensar a vida, o homem e o mundo, e o futuro deste tripé, Paulo Cunha e Silva olhava o desporto inequivocamente como um fenómeno cultural, que aportava ao imanente corpo motor a possibilidade de, pelo esforço de superação, perseguir a transcendência, revelando-se no corpo desportivo – um corpo de variabilidades que, pelo uso do movimento desportivo convoca a estética para o universo do desporto. Apesar de constrangido pelo treino e pelo quadro regulamentar de cada modalidade, o corpo desportivo pode oscilar e até transitar entre um corpo centrípeto e um corpo centrífugo. Neste trabalho argumenta-se acerca da importância da figura de Paulo Cunha e Silva na compreensão do valor estético do desporto, chamando a atenção para uma das facetas do pensamento de um investigador que foi fundamentalmente um activista do pensamento contemporâneo.

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