Dom Quixote-mikhail Tchekhov: Uma Abordagem do Corpo Imaginário
Por Natacha Dias (Autor).
Resumo
O texto parte de Reflexões sobre Dom Quixote, texto escrito em 1926 por Mikhail Tchekhov (1891-1955), para traçar uma reflexão sobre seu conceito de Corpo Imaginário. A noção constitui um dos elementos da pedagogia da imaginação formulada pelo artista, entre os anos vinte e cinquenta, a partir da sua experiência como ator no Teatro de Arte de Moscou e no Primeiro Estúdio, a esse associado. Alinhado aos princípios do que Konstantin Serguêevitch Stanislávski considera como trabalho sobre si mesmo no processo da encarnação, o Corpo Imaginário é mais do que um procedimento de caracterização externa na composição atoral. Como uma verdadeira “poética do devaneio”, nos termos sugeridos por Gaston Bachelard, apresenta-se como estratégia técnica que ajuda a consolidar a crença tchekhoviana de que a atuação é uma experiência supra-pessoal, a detonar no artista e no público um movimento de transformação espiritual. Por meio do encontro entre o universo autônomo das imagens e aquilo que Tchekhov nomeou de individualidade criativa, o Corpo Imaginário aborda a personagem não como existência literária e condicionada às circunstâncias propostas pelo autor, mas entidade concreta no espaço, de quem o ator se aproxima por meio das etapas de visualização, formulação de perguntas, construção e variação de centros energéticos. O texto reflete sobre a maneira como esse conceito surge, ainda na juventude pré-exílio de Mikhail Tchekhov, como teorização do artista em relação ao seu próprio modo de atuar, em uma análise que não se sobrepõe aos aspectos intuitivos do ofício, mas os inclui. Faz referência, também, à contribuição dada pelas ideias de Rudolf Steiner no amadurecimento desse conceito na história de construção do Sistema criativo de Tchekhov.