Resumo

A capacidade intrínseca é a combinação de capacidades físicas, mentais e sensoriais que identificam atributos positivos associados ao envelhecimento saudável. É importante compreender seu impacto em aspectos relacionados com o desenvolvimento de demência e declínio de marcha. Objetivo: Analisar a capacidade de diferentes domínios da capacidade intrínseca e fatores associados (nível de atividade física, sexo e escolaridade) de predizer o desempenho de marcha com e sem dupla tarefa de idosos. Métodos: Este é um recorte transversal com dados preliminares da linha de base da coorte intitulada FREVO – Fatores de Risco do EnvelhecimentO, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina (CAAE 69901423.9.0000.5191). A amostra incluiu 91 idosos (76,9% mulheres, idade média 70,3 ± 6,5 anos; IMC médio 27 ± 4,3 kg/m²; 64,8% com mais de 12 anos de estudo; 58,8% fisicamente ativos). Os domínios da capacidade intrínseca foram avaliados pelo MoCA (cognição), SPPB (locomoção), Escala de Depressão Geriátrica (bem-estar psicológico), teste de Snellen para visão e teste de sussurro (ambos do domínio sensorial) e Mini-Avaliação Nutricional (vitalidade). A marcha foi analisada pelo Timed Up and Go, sem e com dupla tarefa. Os escores cognitivos foram calculados com o participante sentado, incluindo tentativas com verbalização de nomes de animais e contagem regressiva. Foram medidos o tempo de marcha, e o número de animais e subtrações nas execuções com dupla tarefa. Também foram calculados o Custo Motor e o Custo Cognitivo de Dupla Tarefa em cada condição cognitiva, bem como as médias dos resultados entre as duas tentativas de cada avaliação. Estatísticas descritivas e uma análise de regressão multivariada ajustada por sexo, escolaridade e nível de atividade física foram realizadas com o software Jamovi 2.5.6.0. Resultados: As médias de marcha foram de 9,47 ± 2,84 segundos na marcha tradicional, e 11,7 ± 3,93 e 11 ± 3,74 segundos com verbalização de animais e com contagem regressiva, respectivamente (Tabela 1). Modelos estatisticamente significativos mostraram que, em nossa amostra, a cognição prediz o desempenho de marcha (b = -0,10; t = -2,16; p < 0,05) e o Custo Motor de Dupla Tarefa com contagem regressiva (b = -1,66; t = 1,76; p < 0,05). O desempenho no SPPB prediz o desempenho na marcha tradicional (b = -1,20; t = 0,15; p < 0,01), com verbalização de animais (b = -1,37; t = -5,95; p < 0,01), e o Custo Motor de Dupla Tarefa com contagem regressiva (b = -1,89; t = -2,17; p < 0,05). O bem-estar psicológico prediz o desempenho de marcha com contagem regressiva (b = -0,29; t = - 2,15; p < 0,05), e a vitalidade é preditora do Custo Motor de Dupla Tarefa com contagem regressiva (b = 3,05; t = -0,57; p < 0,05). Também foi observado que o sexo prediz o desempenho na marcha tradicional (b = -1,60; t = -3,00; p < 0,01), e a cognição prediz o número de animais e de subtrações no escore cognitivo sentado (b = 0,23; t = 5,39; p < 0,01 e b = 0,40; t = 0,44; p < 0,01), respectivamente. Conclusão: Apenas o domínio de capacidade sensorial (visão e audição) não foi capaz de predizer o desempenho de marcha. Dentre fatores associados, foi observada influência apenas do sexo na predição da marcha.

Acessar