Resumo

Propiciar condições para que os talentos esportivos (TE’s) sejam cultivados desde os anos escolares é fundamental, pois, além de seu valor social, trata-se de uma forma de promover autorrealização. Em diversos documentos, o Ministério da Educação reconhece a importância e a necessidade de políticas públicas que atendam as necessidades educacionais especiais dos alunos com essas características. Ademais, o TE é uma das principais e mais controvertidas questões de pesquisa das ciências do esporte, incluindo, evidentemente a Psicologia. Um dos principais debates diz respeito ao papel do organismo e do ambiente na sua determinação. Para analisar a natureza e possíveis determinantes do TE, enfatizando sua manifestação em escolares, três estudos foram realizados. O primeiro analisou o estado atual da arte das pesquisas sobre TE. Para tanto, analisou a produção científica indexada em bases de dados internacionais (PsycINFO, Web of Sciense, Sport Discus) e em uma nacional (SciELO). Os resultados evidenciaram que TE não têm recebido a atenção necessária no meio científico internacional. Quando ela ocorre, trata-se de um processo atencional muito focado na dotação de jovens esportistas do sexo masculino praticantes de futebol. Uma base de dados e um periódico se destacaram nas publicações. No Brasil, constatou-se que a produção científica sobre TE apresenta um cenário precário. O segundo avaliou algumas capacidades físicas, enfatizando o papel delas na identificação de pessoas com dotação (10% mais capazes) e comparou sua manifestação nos sexos. Ademais estimou-se a magnitude do efeito da idade, da maturação e da prática deliberada na identificação nesse tipo de dotação. Estudantes do Ensino Fundamental (N=346) foram submetidos a uma bateria de medidas antropométricas e de aptidão física. Observou-se que o grupo de meninas (n=15; 9,55%) e o de meninos (n=21; 11,11%) com dotação física apresentaram dimensões equivalentes. Uma análise de componentes principais identificou que o conjunto de medidas pode ser organizado em dois tipos de dotação: Dotação Antropométrica (DA) e Dotação Motora (DM). Com base nelas e em um escore geral, analisaram-se cinco perfis de dotação. Não foram observadas diferenças entre os sexos no que diz respeito à DA. No caso da DM, constatou-se que as meninas são mais flexíveis e os meninos obtiveram melhores resultados nas demais variáveis. A idade e, principalmente, a maturação apresentaram efeito significativo 6 na identificação de algumas dotações, especialmente a DA. O terceiro estudo analisou com modelos de equação estrutural (MEE) o Modelo Diferencial de Dotação e Talento (DMGT 2.0), especificamente sete relações distintas entre dotação física, catalisadores ambientais e intrapessoais, processo de desenvolvimento e TE. Alunos (N=334) do Ensino Fundamental de escolas públicas foram submetidos a questionários, escalas e uma bateria de testes antropométricos e de aptidão física. O MME considerado mais adequado para o TE mostrou que a contribuição do processo de desenvolvimento é mediada significativa e respectivamente por catalisadores e dotação, sendo que a última apresentou maior efeito direto no TE. De modo geral, os três estudos denotam que os TEs são multifacetados, complexos, dinâmicos e precisam ser mais pesquisados.

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