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Desculpem se volto a bater na tecla sobre a proximidade entre esporte e política. Considero fundamental, para o bem dos atletas e do esporte, que essa questão não deve ser tratada de forma leviana ou conveniente.
Quis o pai do Olimpismo, Pierre de Coubertin, que o Movimento Olímpico tivesse a autonomia necessária para não navegar conforme os ventos políticos. É sempre importante lembrar que esse desejo advinha de um momento de extrema tensão na Europa, afinal o resto do mundo era apenas o resto. Tanto eram verdadeiros os embates que poucos anos depois eclodiria a I Grande Guerra Mundial.
Não bastasse isso o poder sobre os rumos do esporte estava nas mãos de grupos aristocráticos que não desejavam ver sua criação ser compartilhada por pessoas que tinham as mãos calejadas ou sujas de graxa. O filme The English game mostra bem a importância que o esporte já tinha no final do século XIX para a classe trabalhadora e o quanto isso incomodava os gentlemen que saiam das universidades onde as competições esportivas ocorriam de forma amadora.
Um dos grandes méritos dos Jogos Olímpicos foi tornar o esporte popular, tanto para quem pratica, como para quem assiste. Mas, isso se deu como conquista, e não como concessão ao longo de um século de muitas disputas entre os que defendiam o amadorismo e aqueles que entendiam ser o profissionalismo inevitável.
Se no âmbito da prática a habilidade e a excelência são delimitadores para se tornar atleta, o mesmo não acontece quando se trata de comandar as entidades desde o nível regional até o internacional. Isso porque a habilidade que está em jogo é justamente a política. Sendo assim, já no primeiro minuto de debate cai por terra o argumento de que esporte e política não se misturam.
O esporte como fenômeno cultural e social estará sempre, em qualquer momento histórico, evidenciando aquilo tudo que acontece nas outras esferas da sociedade. Isso ocorre dentro da quadra com um público atento a observar o que os protagonistas do espetáculo mostram para além de sua habilidade atlética, seja no ambiente privado dos vestiários, nas preleções ou nas celebrações.
E assim, pequenos gestos ou grandes manifestações podem desencadear reações com desdobramentos que serão lembrados por muito tempo, principalmente se essas manifestações terminam com alguma espécie de censura ou punição.
Foi assim com os atletas Tommie Smith e John Carlos que se manifestaram com os punhos cerrados no pódio dos Jogos Olímpicos do México, em 1968. Foram punidos com o banimento do esporte, em plena luta pelos direitos civis nos EUA.
Em 2020 Carol Solberg, se manifestou bradando “Fora Bolsonaro” ao final de um campeonato de vôlei de praia. Imediatamente advertida, sofreu, em princípio, um advertência, punição essa revertida em instância superior. A alegação utilizada foi que não eram admitidas manifestações políticas em arenas esportivas.
Esse caso mostrou como é cada vez mais frágil a ladainha “esporte e política não se misturam”. E o perrengue não para por aí. Afinal, quanto se fez uso da camisa da seleção brasileira de futebol em manifestações anti-Dilma e pró-Bolsonaro. Camisa essa que seria um patrimônio nacional, assim como são todas as demais camisas de nossas seleções. Inclusive a que Renan, o técnico da seleção brasileira de vôlei masculino, e Radamés Latari, vice-presidente da Confederação Brasileira de Voleibol, ofereceram ao candidato à presidência da mesa da câmara Arthur Lira, já com o nome gravado nas costas.
Efetivamente, só defende o argumento de que política e esporte não se misturam quem pode fazer com o poder o que bem entender.