Resumo

Nos últimos 15 anos, podemos acompanhar o crescimento do número de publicações cientificas na área da Educação Física e Esporte. Além do crescimento das publicações, observou-se que o número de autores cresceu na mesma proporção. Na área da Educação Física, esse é um reflexo do inequivoco aumento da produção científica da área, oriunda fundamentalmente do também aumento dos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), além do aumento dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq. O crescimento do número de autores na nossa área, nesse mesmo período, também acompanha o crescimento de autores em múltiplas áreas do conhecimento há várias décadas. Um levantamento bibliométrico mostrou que, no final da década de 1950, o número de autores estava na ordem de um por artigo, passando para uma média de 3,5 autores em 2007 (BAETHGE, 2008). Esses e outros dados nortearam uma pesquisa no Brasil sobre o mesmo tema nas publicações da área da saúde coletiva, no período de 1999 a 2010. Os resultados demonstraram que o número de artigos com quatro ou mais autores aumentou mais de 2,5 vezes entre 1999 a 2010, sugerindo que esse fenomemo também têm ocorrido nas publicações brasileiras (CAMARGO JR.; COELI, 2012). Nesse sentido, a autoria e o número de autores de estudos científicos tem sido alvo de discussões em vários editoriais das diversas áreas científicas (FALCÃO; FAINTUCH, 2003; GOLDEMBERG, 2011; DOMINGUES, 2013; BRAILE, 2013; BOCHNER, 2014; PRADO; KRAMER, 2015), isso porque, embora o crescimento de autores tenha um efeito positivo no crescimento e desenvolvimento das diferentes áreas, restam dúvidas de que estejam incluídos os atores responsáveis, de fato, por todo o processo de produção intelectual e execução final do manuscrito. Dentro das publicações na área da Educação Física e Esporte, essa discussão ainda é inexistente, quando muito insipiente, e muitos equívocos sobre quem deve ser considerado autor em um manuscrito na nossa área ainda se fazem presentes. Sobre o tema de autorias, Montenegro e Alves (1987) destacam que a autoria de um artigo será sempre daquele que o idealizou, que definiu seus objetivos e delineou seus métodos, além de ser o responsável final pelas considerações sobre resultados obtidos. Para esses autores, esse pesquisador deverá sempre figurar como o primeiro, indicando fundamentalmente que este é o responsável pelas etapas do estudo relatados anteriormente. Igualmente, quando o estudo tem mais de dois autores, outro autor que deverá ser facilmente identificado, deverá ser o último, quando este é consultado sobre os caminhos do estudo nas suas diferentes etapas de elaboração e finalização, dando um parecer na revisão final do artigo. Essa coautoria é facilmente identificada como a do orientador do trabalho ou líder do grupo de pesquisa. Contudo, para essa coautoria figurar nessa posição de destaque, o orientador ou líder do grupo deverá anuir a sua colaboração, quando todos os demais autores assim o considerarem. A inclusão do líder do grupo de pesquisa ou outrem em uma publicação descontextualizada, estranha ou extemporânea ao seu tema de estudo, como alertavam Montenegro e Alves (1987), será um abuso quando este não participou de qualquer etapa do estudo. Não parece adequado que uma autoria seja atribuída a alguém apenas com o fim de agracia-lo, da mesma forma envolver um autor apenas para usar seu nome de prestígio para valorizar a publicação. Também é muito comum que líderes de grupos de pesquisa não admitam que estudos saídos do seu grupo não o tenham como coautor, sob qualquer circunstância. Sobre isso, Montenegro e Alves (1987) advogam que essa decisão de inclusão de autoria, dessa forma, não parece ser ética, quando determinado autor não teve qualquer participação no estudo publicado. Segundo Goldemberg (2011, p. 2), a forma justa de definir o autor e coautores de um estudo deve ser aquela que o coautor esteja “capacitado a defender a pesquisa com propriedade e conhecimento aprofundado sobre o assunto”. Ou seja, este coautor não poderá apenas contribuir de forma “secundária” no manuscrito. Caso as condições de autoria não sejam claramente estabelecidas, sua participação não deverá ser considerada como uma coautoria. Portanto, a autoria de um trabalho estabelece uma relação direta de responsabilidade, certificando a sua total integridade, devendo os autores estarem sempre aptos a defender seu trabalho publicamente ou em qualquer situação (GOLDEMBERG, 2011). Nesse particular, o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (International Committee of Medicine Journal Editors – ICMJE), recomenda ao menos quatro critérios fundamentais para a definição de autoria nos estudos médicos, mas que também se tornaram referência para outras áreas em saúde, como acontece com a maioria dos estudos da Educação Física e Esporte: 1. Contribuir substancialmente para a concepção ou desenho metodológico do estudo; ou a adquirir, analisar ou interpretar os dados para o trabalho; 2. Escrever o trabalho ou revisá-lo criticamente, contribuindo com um conteúdo intelectual importante; 3. Participar da aprovação final da versão a ser publicada; 4. Concordar em ser responsável por todos os aspectos do trabalho no sentido de garantir que as questões relacionadas à precisão ou integridade de qualquer parte do trabalho estão devidamente investigadas e resolvidas. Além disso, o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos (ICMJE) defende que o autor deve ser responsável ppelas partes do trabalho que fez, além de identificar quais coautores são responsáveis por outras partes específicas do trabalho. Além disso, os autores devem ter confiança na integridade das contribuições de seus coautores para que os mesmos
Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 13, n. 2, p. 09-10, jan./jun. 2015.
BORGES, G. A.; FLORES, L. J. F. A autoria e coautoria nos artigos científicos: uma reflexão para a educação física e esporte10
sejam participantes da publicação. Ou seja, qualquer participação indevida em uma publicação fere um aspecto importante da ética em pesquisa, que deveria ser considerada uma conduta imprópria (SCHNEIDER; SCHÜKLENK, 2005). Atualmente no Brasil, devido à escassez de recursos públicos das agências de fomento à pesquisa para o seu financiamento e/ou para a obtenção de bolsas de pesquisa, vem ocorrendo um processo selvagem de concorrência feito através do ranqueamento dos pesquisadores através do seu produtivismo acadêmico. Essa necessidade de publicações constantes tem inflacionado ou artificializado muitas autorias nas publicações, principalmente nos periódicos mais bem qualificados, inclusive naqueles da Educação Física. Segundo Garcia et al. (2010), os problemas cotidianos relacionados ao trabalho universitário, o modo como a ciência é organizada e a pressão por publicação (publish or perish1), são apontados como possíveis causas para esses desvios ou condutas impróprias. Para além desses critérios de inclusão de coautores, Petroianu (2012) apresenta outros critérios apresentados pela literatura que são adotados em diferentes áreas, enfatizando que uma coautoria não deverá ser atribuída a alguém que não participou do estudo, como forma de cortesia ou troca de favores, que visam enriquecer o currículo de todos os interessados. Para Petroianu (2002; 2012), a ordem de autoria deveria seguir uma somatória dos atributos de participação de todos os envolvidos no processo de elaboração e desenvolvimento da pesquisa, até a finalização do artigo. Quando a participação dos sujeitos em todas as etapas da pesquisa alcançar uma nota mínima, este pesquisador deverá ser incluso como autor e/ ou coautor, na ordem da pontuação atribuída. Caso a pontuação mínima entre todos os participantes não seja alcançada, dando o direito ético de constar como coautor, resta aos demais autores darem os devidos agradecimentos a essas pessoas ao final do artigo. Finalmente, esse tema ainda não está totalmente claro e sabemos que cada área de conhecimento tem seu modus operandi de atrubuir as autorias, que não serão discutidas neste editorial. Outrossim, o que desejamos é que nas publicações na área de Educação Física e Esporte incluam, de fato, aqueles atores que estiveram realmente envolvidos nos diferentes processos de produção do estudo acadêmico, nas futuras submissões de qualquer periódico da Educação Física ou Esporte.

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