Resumo

A RPCD tem tido um desenvolvimento natural, alargando-se e diversificando sempre mais a panóplia de assuntos que lhe dão conteúdo e forma. Mantém-se assim fiel à pretensão de se afirmar como uma revista de ciências do desporto, ou seja, de ser um espaço de representação dos olhares múltiplos e distintos que se focalizam no fenómeno desportivo e nos seus agentes. O presente número configura bem esse objectivo, revelando até uma nova fase de abertura e abrangência. Com efeito é manifesta a diversidade de temas e de autores, provando que a revista está a ganhar a atenção e a consideração das instituições e investigadores de ciências do desporto, com particular destaque para o Brasil, sem ignorar que ela suscita interesse e apreço em especialistas que comunicam em língua inglesa. Este relevante aspecto garante à RPCD um interessante e sólido perfil, possibilitando a inclusão de outros assuntos aparentemente estranhos por dizerem sobretudo respeito à vida da FCDEF-UP. Mas a verdade é que também se inscrevem na matriz da missão que anima a revista e o seu corpo editorial. Realmente a revista é expressão de um conjunto de preocupações, princípios e valores que congregam muitos investigadores e as respectivas instituições no espaço da língua portuguesa. Esse universo de interesses dá sentido a uma cultura de amizades e afectos que constitui o ponto de partida e de chegada do movimento em que a RPCD se inclui. Por isso é perfeitamente natural que este número faça a evocação do André Costa, um companheiro que viu com paixão e entusiasmo delinear o caminho largo do futuro, mas que ele não logrou percorrer e concluir. Enfim, uns têm a sina de sonhar e semear a vida e outros de a colher. Igualmente se inclui o texto da oração de sapiência proferida na cerimónia de abertura do ano lectivo 2003–2004 da FCDEF-UP. Como se sabe, a RPCD pauta-se por uma linha de entendimento e relacionamento com todos quantos contribuem para a configuração e interpretação do desporto como fenómeno polissémico e polimórfico. É este o caso presente, do autor e do jornal A Bola, onde o emérito jornalista sr. Homero Serpa pontifica há várias décadas. Um caso de excelência e exemplaridade no panorama mediático nacional e internacional, pela profundidade, responsabilidade e elevação imprimidas ao tratamento da coisa desportiva. De resto a efeméride constituiu uma oportunidade para não deixar passar em claro uma nova e inquietante fase do neoliberalismo político e económico que se derrama por toda a parte. O ataque ao estado social, às suas instituições e pessoas é hoje por de mais evidente. As universidades públicas também não escapam a essa sanha persecutória: para elas são feitas leis que dificultam a sua vida e gestão; para as universidades privadas são feitas, à medida, de encomenda e por compadrio, leis destinadas a facilitar-lhes a realização dos seus desígnios – nem sempre claros, transparentes e fidedignos. Para o Mundo o ano de 2003 termina como começou e como decorreu. Com marcas de crime, de saque, sangue e morte. Oxalá 2004 não cheire ao podre de 2003! Nem seja prisioneiro dele, mas antes de compromissos com mais verdade e com mais partilha e entrega às causas e ideais que enobrecem e dignificam a humanidade. É também a este destino que o desporto se deve atrelar hoje e sempre, acordando as forças e virtudes que ele encerra. É nele que a União Europeia deposita grandes esperanças ao designar 2004 como Ano Europeu da Educação pelo Desporto, isto é, ao convocá-lo para se posicionar inequivocamente do lado das carências e exigências educativas. O mesmo é dizer que a crença no desporto continua em alta, ao mesmo tempo que se aprofunda a desilusão com a crise moral e social. Saibamos estar à altura do novo e aliciante desafio que se coloca ao desporto, às suas instituições e a todos nós!