Resumo

Este trabalho propôs-se a analisar a construção do debate acadêmico da Educação Física brasileira, sobretudo na década de 80, quando ocorreu uma proliferação de discursos científicos na área. Para isso, realizou uma etnografia do pensamento acadêmico, proposta metodológica do antropólogo americano Clifford Geertz. O pressuposto para esta abordagem é que o pensamento pode ser analisado não somente de forma singular, como processo característico da espécie humana, mas também na sua dimensão pública, como produto do homem e, portanto, variável e específico. Os discursos acadêmicos da Educação Física brasileira na década de 80 foram tomados como parte de um universo simbólico que foi socialmente produzido e ainda é socialmente mantido. As formas de pensamento da Educação Física foram analisadas como construções sociais representadas por um grupo de estudiosos, seus autores e, ao mesmo tempo, atores, uma vez que desempenharam papéis relevantes nessa dramaturgia do pensamento científico da área. A intenção foi desfocar a discussão de uma perspectiva de disputa entre as várias abordagens da área para a consideração de que todos os discursos sobre Educação Física foram importantes para compor o cenário, dentro do qual os atores envolvidos puderam desenvolver a trama da construção do pensamento acadêmico da Educação Física brasileira. Após as entrevistas com os principais personagens deste processo, foi possível perceber que a cientificidade da área foi engendrada a partir de polarizações do tipo progressista X reacionário, esquerda X direita, social X biológico, impedindo, muitas vezes, o diálogo entre as pessoas. Essa polarização, embora não exclusiva da Educação Física, teria levado à absolutização de tendências na área. Assim, os representantes de cada pensamento tornaram-se personagens que assumiram determinados papéis e passaram a agir como defensores de uma abordagem de Educação Física, como se esta fosse a melhor. Esses papéis representados foram reforçados, por oposição, pelos representantes de outros pensamentos e, por confirmação, pela platéia composta pelos profissionais da área espalhados pelos país. Ao realizar uma etnografia do pensamento acadêmico da Educação Física, a intenção deste trabalho foi proporcionar um estranhamento em relação a ela, que possa levar a um repensar da área, considerando as abordagens existentes, mas sem se limitar a elas. Espera-se que este trabalho possa contribuir para uma melhor comunicação entre os representantes ou seguidores de cada uma das formas de pensar a Educação Física brasileira, refutando uma postura preconceituosa de uma em relação à outra. Assim, acredita-se que possa ser profícuo o debate acadêmico na área.

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