Resumo

A investigação no contexto da filosofia do desporto adota, tradicionalmente, abordagens à estética e à ética separadas, distintas e marcadamente diferenciadas e independentes, sendo dada preponderância, por norma, aos trabalhos do âmbito da ética, que em volume marcam uma presença consideravelmente superior nas principais revistas internacionais deste campo de estudo (Torres, 2012). Estando o potencial pedagógico estético e ético do desporto amplamente descrito na literatura, e procurando na nossa abordagem evitar o erro separatista de tratamento da estética e da ética (Eaton, 2001), o objetivo deste estudo prende-se com a discussão de alguns dos elementos estéticos do desporto que requerem referenciais éticos e vice-versa, procurando as zonas de entrecruzamento e interinfluência destes âmbitos numa abordagem estético-ética da educação física, que lhe pode conferir um inovador e diferenciado potencial pedagógico (Gagliardini Graça e Lacerda, 2012). Para a persecução deste objetivo, o itinerário metodológico integrou a recolha, análise e discussão, a partir de uma perspetiva hermenêutica e fenomenológica, dos discursos contidos em entrevistas semiestruturadas de caráter exploratório, realizadas a um grupo de estudo que compreendeu dezanove professores/investigadores nas áreas da estética, da ética, do desporto e da educação física. A discussão e triangulação entre conteúdo proveniente das entrevistas com as reflexões já disponíveis sobre a temática na literatura permitiu-nos obter como resultado um roteiro argumentativo que explora o especial papel da educação física e a relevância da corporeidade na educação da sensibilidade estético-ética dos alunos no seu percurso escolar. Nas conclusões deste roteiro foram particularmente enfatizados quatro elementos com potencialidade estético-ética que contribuem para uma estético-ética do desporto recuperadora da unidade da experiência processo-produto no desporto. Esses elementos, que podem ser transportados do desporto para a vida no caminho do florescimento humano, foram a vulnerabilidade, a afetividade, a identidade e a competição.

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