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  Como Anda a Educação Física no Cotidiano da Escola ?


 O tema que me coube discutir nesse encontro foi a realidade da Educação Física no cotidiano das escolas de Primeiro e Segundo Graus. Optei em começar pelos diagnósticos que procuraram observar os professores e observei que esses estudos apontam para um quadro desalentador.


 Em pesquisa realizada com professores de Educação Física que lecionavam de Primeira a Quarta série, foi identificado que os docentes tem pouco conhecimento teórico, não tem objetivos e nem uma intenção político pedagógica (Ribeiro, 1996).
Professores de Educação Física que lecionavam no segundo seguimento do Primeiro Grau demonstraram desconhecer as finalidades da Educação Física Escolar para esse seguimento do ensino. E ao aplicar os novos conhecimentos o fazem sem refletir sobre suas adequações a realidade (Boccardo, 1990).


 Pesquisa realizada com professores de Educação Física que lecionavam de Quinta a Oitava série indica que seus objetivos são imediatistas e tendem a se fixar quase que exclusivamente nos problemas encontrados no dia a dia das aulas. As estratégias mencionadas, como sendo as que utilizam, para atingir os objetivos se resumem a proporcionar situações, como a atividade esportiva, acreditando que ela por si só, seja capaz de fazer todos os alunos terem os comportamentos desejados, sem que haja outras intervenções do professor. Os meios mencionados para atingir os objetivos não parecem fazer parte de um projeto pedagógico planejado, operacionalizado e que permitam consequentemente a geração intencional de situações de ensino. Não há indícios de que o professor tenha em mente um perfil de aluno que queira ajudar a formar (Castro et al.1997).


     "O corpo do aluno é visto como um um objeto a ser manipulado e melhorado em seus rendimento. As atividades físicas não são adequadas aos corpos dos alunos e o corpo não atlético é ridicularizado ou desprezado". O autor diz que, há muito, os intelectuais se preocupam com a questão da consciência corporal mas que pelo visto esse conhecimento ainda não chegou as escolas (Moreira, 1991).


 Enquanto as demais disciplinas da escola tem uma seqüência programada o mesmo não acontece com a Educação Física. Os mesmos objetivos de ensino e os mesmos conteúdos são propostos para todas as séries (Moreira,1991).
Os professores não tem um modelo conceitual e um instrumento de análise cientificamente fundamentado e isso é uma das, prováveis, causas de sua insegurança didático- pedagógica (Tani, 1992).


Os estudos descrevem uma Educação Física sem objetivos reduzida a uma atividade que apenas ocupa um tempo na grade horária das escolas e sua permanência enquanto disciplina escolar só vigora porque a lei, até então, o exigiu.


  Mas quais Poderiam Ser as Possíveis Razões desses Descaminhos ?


Os dados desses diagnósticos, se examinados em separado culpabilizam, unicamente, os professores de Primeiro e Segundo Graus. Nesse sentido, entendi que seria conveniente fazer algumas considerações sobre as possíveis razões do mal funcionamento da Educação Física no Primeiro e Segundo Graus, conforme apontado pelos estudos.
O que o professor realiza na sua prática profissional depende em grande parte das recompensas que tem.


  Recompensa Profissional


 Nesse item podemos incluir o salário ou outras formas de valorização do trabalho do professor de Educação Física. Embora, na nossa sociedade, o salário, seja um forte espelho do valor de uma profissão, o carinho dos alunos ou as considerações da diretora da escola, por exemplo, também podem ser formas de reconhecimento.


  A Situação Salarial


 Apesar da maioria dos nossos governantes falarem da importância da Educação basta olharmos para os salários dos professores que perceberemos de imediato que tudo não passa de mera retórica.


Sabemos que o ideal seria o professor trabalhar em uma única escola e ter incluído em sua carga horária tempo para planejar, participar de reuniões e estudar. Entretanto, o que acontece na realidade, é que o professor, para garantir as mínimas condições de sobrevivência, tem que correr de uma escola para a outra numa rotina alucinante. É obvio, que as péssimas condições salariais interferem de varias formas na qualidade do trabalho desenvolvido pelo professor. Que vive em situação de precariedade não tendo as mínimas condições materiais ou psicológicas para levar uma vida equilibrada, o que certamente, interfere negativamente na sua prática profissional.

 Ao observarmos os dados do DIEESE referentes ao salário dos professores de primeiro grau do município do Rio de Janeiro, podemos constatar as enormes perdas salariais sofridas por esses profissionais. O que provavelmente não é uma exceção nacional. Em janeiro de 1979 o menor salário era de 1169,00 R$ e o maior de 3332,96 R$, em maio de 1996 o menor salário era de 384,56 R$ e o maior era de 536,21 R$. Nesse período os trabalhadores em geral perderam 1/3 de seus salários, entretanto os professores foram os mais prejudicados perdendo o correspondente a mais de 2/3. Essa enorme perda salarial, certamente, teve um profundo impacto no nível de vida, na respeitabilidade a nível social, na formação social e cultural, e transformações na percepção subjetiva da atividade e da posição social dos professores (Paiva et alli, 1997).


   A Valorização do Professor de Educação Física


 É interessante observar que as atividades reconhecidas como sendo da Educação Física são valorizadas pelas crianças que correm, jogam, nadam etc, pelos cientistas que não cessam de falar dos benefícios do exercício na prevenção de doenças e pela sociedade, em geral, no que concerne aos esportes, ou como instrumento a serviço da estética corporal ou da saúde. Entretanto, segundo professores de Educação Física as direções das escolas consideram a Educação Física menos importante que as demais disciplinas e a relegam a um plano secundário (Daolio, 1995) . Como a educação, no seu todo, já é vítima de um grande descaso, o que resulta é que a Educação Física acaba sendo duplamente desprestigiada. Na verdade, esse desprestigio reflete até mesmo na escolha da própria profissão. Alguns professores do sexo masculino, entrevistados por (Daolio, 1995), disseram que seus pais não receberam bem a notícia de que eles queriam ser professores de Educação Física. Seus pais disseram preferir que eles seguissem carreiras como a medicina ou a engenharia. Entretanto, apesar da visão depreciativa que os adultos tem da Educação Física na escola, o mesmo não parece acontecer com as crianças. Os professores de Educação Física entrevistados por ( Castro et al. , 1997) disseram que os alunos valorizam sua disciplina. E segundo os entrevistados por Daolio (1995) os alunos, os preferem aos outros das demais disciplinas.


Se o professor de Educação Física não recebe um salário condizente e não tem o seu trabalho valorizado pelos dirigentes das escolas, uma das, prováveis, razões que ainda os movem, pode ser a importância que os alunos dão a suas aulas.


  Condições de Trabalho


 As condições em que o profissional trabalha é uma outra situação que não só, prejudica a atuação dos professores, como também reflete na maneira como ele percebe o grau de valorização de sua função. Trabalhar em condições precárias é desistimulante para o profissional.


 Em investigação realizada em duas escolas da rede estadual do Rio de Janeiro cada qual com mais de 1200 alunos, foram identificadas as seguintes condições de trabalho: a) espaço inadequado e insuficiente considerando-se o grande número de alunos b) ausência de vestiários c) falta de material d) turmas com mais de quarenta alunos e) amplitude de dez anos na faixa etária dos alunos das turmas f) os alunos disseram faltar as aulas de Educação Física porque precisam ajudar a família (Guimarães, 1994).
Como se não bastasse a falta de condições que cabe a escola prover temos ainda que conviver com a situação de miséria em que vive a grande maioria da nossa população. Nas condições precárias em que vivem essas famílias as crianças tem que trabalhar para contribuir com a renda familiar. Por esse motivo, como detectou (Guimarães, 1994), essas crianças não podem participar das aulas de Educação Física.


Condições de trabalho inapropriadas, os contínuos problemas salariais, a inexistência de possibilidade de desenvolvimento, de valorização e de aproveitamento de seus potenciais faz com que as professoras fiquem desanimadas, desesperançosas e apáticas. Embora elas tenham interesse em realizar um bom trabalho, entendem que o sistema não lhes permite ter as condições necessárias (Nogueira, 1993).


 O quadro traçado até esse ponto, não tem como objetivo justificar que os professores devam ficar desanimados, apáticos e deseperançosos. Na verdade, o que pretendo é juntar as peças de uma realidade na qual o professor e sua prática estão inseridos, e dessa forma dar uma visão do todo. Entendo que apesar de todas as dificuldades é preciso que o professor lute, que participe politicamente e procure reverter a situação em que se encontra.


É importante lembrar que os professores que hoje atuam nas escolas de Primeiro e Segundo Graus passaram por um curso de Formação e foram graduados por uma Escola superior de Educação Física. Portanto, faz se necessário, identificarmos como funcionam esses cursos.


  Os Cursos de Formação de Professores


 Os diagnósticos realizados sobre os cursos de formação de professores de Educação Física não nos fornecem dados diferentes dos que foram encontrados para o Primeiro e Segundo Graus.


Em estudo realizado com professores do curso de graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi identificado que os professores não tem conceitos claros e referenciais teóricos sobre o termo Educação Física. (Melo em Melo, 1996).
Em estudo realizado sobre o currículo da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo, não foi identificada uma linha de ação político- filosófica e clareza de objetivos na formação profissional. O currículo daquela instituição não contempla as disciplina das áreas de conhecimento filosófico e social. Observou-se, também, que a prática docente é isolada e descontextualizada, resultando na ineficiência dos procedimentos de ensino, e a ausência quase total de interdisciplinaridade. Esse contexto de ensino não oportunisa uma pedagogia que conduza a reflexão. Esses dados são semelhantes aos encontrados a nível nacional (Campos, 1994)


 Em outro estudo, Ferreira Neto (1993) nos dá mais um dado que complementa esse quadro. Segundo esse autor, nos cursos de Formação ha pouco questionamento da realidade política.


 Entendo que as disciplinas do grupo pedagógico são de grande importância na formação das concepções que deverão embasar os futuros docentes. Embora, também entenda ser fundamental a associação dessas disciplinas com as atividades específicas da Educação Física pois só dessa forma, poderemos fazer uma aplicação das teorias. Entretanto, ao nos deparamos com o estudo de (Gallardo, 1990) percebemos que as direções das escolas de Educação Física não parecem dar a devida atenção a essas disciplinas. Esse autor ao estudar os currículos das escolas de Educação Física do Estado de São Paulo, identificou que as disciplinas   Pedagógicas estão presentes com a menor carga horária.


 Como pudemos identificar, pelos estudos observados, os professores que atuam nas escolas de graduação, não tem um projeto pedagógico e se depender deles, aqueles que eles vierem a formar, tambem não o terão. E pelo que parece, os professores que lecionam nas escolas de Educação Física, se restringem a se ocupar de suas disciplinas, sem pensar na formação do indivíduo, do cidadão e muito menos na sociedade. Eles tem como alvo de interesse apenas a técnica especifica da modalidade.
 Algumas teorias tem sido elaboradas sobre Educação Física acredito que muitas outras deverão ser geradas. E apesar de, para alguns de nós, essas teorias não serem novidade, ao que parece, elas, ainda, são desconhecidas, por grande parte, dos professores.
 Nada mais desejável do que uma Educação Física que tenha em mente formar professores que saibam como formar cidadãos, entretanto, cabe observar, que ainda não resolvemos problemas elementares como a maneira de ensinar as modalidades esportivas. Segundo (Daolio, 1995) nos nossos cursos de formação os futuros professores aprendem as técnicas dos esportes e não como dar aulas desse esporte. Campos (1994) reafirma essa visão dizendo que os professores, dos cursos de formação, visam, basicamente, a melhoria da performance dos alunos dando pouca atenção ao processo de ensino- aprendizagem.


 Um outra crítica comumente feita é que o esporte é o único conteúdo das aulas de Educação Física no Primeiro e Segundo Graus. A pergunta que me faço é: Será que alguem esperaria encontrar algo diferente? Ao observarmos o que nos diz Tojal (1990) provavelmente diríamos que não. Segundo esse autor o currículo dos diversos cursos de formação de professores de Educação Física é bastante voltado para o esporte.


 Modificar o que é feito nas Escolas de Educação Física e formar alunos que sejam capazes de por em prática um projeto pedagógico é uma necessidade premente. Entretanto, não podemos nos conformar com mudanças que só ocorrem a cada 25 ou 30 anos, que é, atualmente, o tempo de profissão, exercida pelo professor antes de se aposentar. No mundo de, hoje, as mudanças vem acontecendo com cada vez mais rapidez o que nos coloca na situação de termos que nos atualizar com muito mais freqüência. Por esse motivo precisamos pensar nos professores que após formado passam a trabalhar e que precisam se atualizar.


  Atualização e os seus Veículos


 Estar atualizado e estar em dia com o conhecimento recém produzido que diz respeito a área em questão. Os meios para se atingir esse objetivo são a leitura de periódicos, a participação em Congressos, Encontros, Seminários etc, a leitura de Anais de Congresso (quando os textos são publicados na sua integra) de livros e a participação em cursos.


 Entendo que a atualização deva começar antes, mesmo, do fim do período de graduação, pois o processo de produção de conhecimento, não para, e se o aluno não acompanha-lo estará desatualizado antes de se graduar. Entretanto, Como o assunto em pauta são os professores e não alunos, e portanto, profissionais que terminaram o curso de graduação, e já exercem a profissão, entendi que seria mais adequado abordar, primeiramente, a questão da atualização com relação a essa clientela.
Dado a velocidade cada vez maior com que o conhecimento novo é produzido, e caduca, os veículos que melhor atendem ao propósito da atualização, são provavelmente, os periódicos e os Congressos e similares.


 O aumento cada vez maior do conhecimento produzido e a vida útil cada vez menor dessa produção passa a requerer uma publicação cada vez mais ágil, que encurte o período entre a descoberta do conhecimento e da sua publicação. Com base nessas considerações, entendo que os periódicos e os congressos e similares são os veículos de atualização mais eficazes.


 Nas ciências mais antigas, o periódico tem sido o veiculo de divulgação mais qualificado para a tarefa da atualização. É bem verdade que essas ciências tem periódicos tradicionais que vem sendo publicados regularmente e com periodicidade pré estipulada, já faz algum tempo. Na área de Educação Física, no entanto, só mais recentemente começou-se a criar essa tradição. Agora que já temos os periódicos, é necessário começarmos a criar o habito de le-los. Pois, segundo Nogueira (1993) 70% dos professores não lêem revistas especializadas.


 Provavelmente um dos problemas que podem dificultar a procura pelos periódicos de Educação Física e que neles são abordados temas que variam num espectro cada vez mais amplo e com cada vez mais profundidade. Como não temos condições de nos especializar sobre todos os assuntos, entendo que o ideal seria publicarmos periódicos específicos para cada uma das nossas sub- áreas. Seguindo essa linha de pensamento o Departamento de Educação Física da UFF procurou criar um periódico específico sobre Educação Física Escolar.


Os congressos e similares alem de serem ágeis e propiciarem a oportunidade para o debate de idéias, tiveram recentemente seu potencial de promotor da atualização aumentado, pois passaram a publicar os anais com os artigos na sua integra. No entanto, esse veiculo de atualização só é utilizado por poucos docentes, pois segundo Nogueira (1993) 78% não freqüentam cursos, congressos ou seminários.


 Entendo que a leitura de livros e a freqüência aos cursos são veículos menos ágeis de comunicação mas ao ler Boccardo (1990) pude perceber que esses são justamente os veículos de atualização preferidos pelos professores de Educação Física. Se considerarmos a eficiência dos veículos priorizados pelos professores devemos ter a preocupação em mudar-lhes essa visão, procurando mostrar-lhes as vantagens dos veículos mais ágeis. Entretanto, se considerarmos os dados obtidos por (Nogueira, 1993) verificaremos que o caminho é divulgar a importância de se estar atualizado e proporcionar os meio para que isso aconteça. Pois a verdade, é que não existe, praticamente, diferença entre o grau de procura por um ou outro veiculo de atualização. Segundo essa autora 74% dos professores não tem conhecimento dos novos livros publicados o que não difere, praticamente nada dos outros dados obtidos para aqueles que não procuram os periódicos 70% e nem os cursos e congressos 78%.


 Os percentuais apontados por Nogueira (1993) nos permitem inferir o quão desatualizados estão os professores. A pesquisadora complementa essa informação indicando as razoes dadas pelos professores para não se atualizarem. Eles alegaram que não freqüentam cursos, seminários ou congressos porque tem impedimentos familiares, vem pouca aplicabilidade no conhecimento apresentados, não tem conhecimento de bons cursos, por terem dificuldades financeiras e por perda de ideal no que concerne a profissão. Os professores entrevistados por (Boccardo, 1990) se disseram, desatualizados por falta de tempo para lerem ou freqüentarem cursos.
 Entendo que a falta de políticas que valorizem o professor, explicam, em grande parte, a baixa procura pelos veículos de atualização. Entretanto, para efeito desse trabalho só discutirei a questão da não aplicabilidade do conhecimento apontada pelo estudo de Nogueira (1993).


  O Conhecimento e o Desempenho do Professor


 A cerca de trinta anos atrás, os congressos da nossa área eram raros e seus protagonistas, os palestrantes convidados, eram sempre os mesmos. As pesquisas eram raras e havia predominância dos temas da área bio-médica. Os livros e periódicos especializados se restringiam, praticamente, a uma série de desenhos que propunham formas de executar exercícios ou ensinar gestos desportivos. Os cursos de aperfeiçoamento, também tinham um papel semelhante ao dos livros e periódicos, pois também se baseavam na transmissão de modelos de execução.


 Passadas três décadas fizemos, indubitavelmente, muitos avanços. Hoje, os Encontros, Seminários e Congressos, são em grande número e de muito melhor qualidade. O grande número de professores pesquisadores nos oferecem não só um enorme volume de informação mas também uma variedade considerável de abordagens. Uma grande quantidade de livros e periódicos que discutem a Educação Física relacionando-a com as diversas áreas afins (sociologia, psicologia, filosofia etc.), vem sendo publicados. Os cursos de pós-graduação que se restringiam aos de aperfeiçoamento de curta duração, deram lugar aos cursos de senso lato e estrito (mestrados e doutorados). Todas essas transformações fizeram com que o conhecimento teórico da área de Educação Física desse um salto de qualidade, e em quantidade continue aumentando numa progressão geométrica que vem alcançando grandes proporções.
Produzir conhecimento teórico específico da nossa área é fundamental para o seu desenvolvimento, no entanto, não é suficiente. Numa primeira etapa produzimos as teorias, na segunda passamos a ir as escolas diagnosticar, o que a priori, tinhamos fortes evidências que constataríamos. O que fizemos, na maioria das vezes, foi utilizar o método científico para registrar, o que na pratica já percebíamos de maneira assistemática. Nossas hipóteses foram, então, confirmadas, há um grande hiato entre as teorias produzidas e suas aplicações nas aulas de primeiro e segundo graus.


  A Produção Cientifica mais Adequada


 Talvez o primeiro problema a ser resolvido, seja uma definição do conteúdo mínimo, a ser aprendido pelo professor que esta sendo preparado para dar aula nas escolas de Primeiro e Segundo Graus. Se por um lado, aprofundar o conhecimento é importante, conhece-lo de maneira generalizada também o é. Sobretudo, para quem da aulas no Primeiro e Segundo graus. A cada dia se torna mais difícil um especialista se manter atualizado sobre os assuntos de uma determinada área e essa situação criou um processo de hiper-especialização. Os especialistas se tornam cada vez mais especializados e passam a conhecer cada vez mais de uma parcela cada vez menor do conhecimento, ao mesmo tempo que se distanciam do todo. É portanto, óbvio que os professores de Primeiro e Segundo graus que precisam ter uma formação generalista não tem condições de se tornarem especialistas em tudo. Mas qual seria afinal o conteúdo mínimo específico que esses professores deveriam conhecer para bem desempenharem suas funções. Entendo que caberia aos especialistas fazer uma seleção desse conteúdo, e não impingir a esses professores uma avalanche de informações que lhes é impossível apreender.

 Um grupo de professores parece ter indentificado esse problema e estão desenvolvendo um livro que pretende prover o conhecimento básico sobre vários assuntos ligados a Educação Física. Uma outra alternativa que o estudo oferece e uma extensa bibliografia sobre cada tema abordado o que propiciará uma fonte de consulta a aqueles que tiverem a opção de se aprofundar sobre um determinado tema (Faria Júnior et alli, no prelo)


  Propostas Aplicadas


Entendo existir, hoje, por parte dos teóricos, dois fatores que dificultam a aproximação entre a teoria e a pratica. Por um lado a super valorização das teorias, por outro a resistência em propor qualquer forma de conhecimento que se assemelhe aos antigos manuais. Entendo haver uma diferença entre a oferta de modelos e de exemplos. O primeiro tem a característica de verdade absoluta e não permite a reflexão, o segundo serve apenas como exemplo e tem como objetivo mostrar uma possibilidade.
Alguns autores venceram essa barreira e publicaram livros que contem propostas de aplicação pratica com embasamento teórico. São eles: Visão didática da Educação Física: analises criticas e exemplos práticos de aulas (Grupo de Trabalho Pedagógico, 991) e Metodologia do ensino da Educação Física (Coletivo de autores, 1993). Alem dessas publicações projetos isolados tem sido desenvolvidos em escolas de Primeiro e Segundo Graus, procurando realizar a aplicação das varias teorias. Dentre inúmeros outros projetos estão o de Tedeshi (1997) e a de Moraes e Pereira Filho (1997).
Portanto, a seleção de um conhecimento mínimo básico e a operacionalização de conhecimentos teóricos me parecem ser duas medidas a serem tomadas.

Essa tarefa de aproximação entre a teoria e pratica não deve, no entanto, ser exclusiva dos teóricos mas também daqueles que atuam no Primeiro e Segundo graus.

  Conclusão


 Uma das propostas desse trabalho foi traçar o quadro em que estão inseridos os professores de Primeiro e Segundo Graus. Os diagnósticos que interpretam a atuação desses docentes quando vistos de maneira fragmentada dão a impressão de que eles são os únicos culpados dos erros cometidos, na Educação Física, nesses graus de ensino. Entretanto, a intenção não foi livrar esses docentes de toda responsabilidade. Entendo que eles também são responsáveis pela situação em que a Educação Física se encontra, quer como membros de uma categoria profissional quer como cidadãos.
 No desenrolar do estudo detectamos vários pontos que consideramos poder interferir na atuação desses docentes. Algumas desses, dependem de uma mudança na maneira como a educação é vista pela população em geral. O que só alcaçaremos através da nossa ação política. Outros desses pontos são de ordem técnica e nesses podemos interferir mais diretamente.
 Elaborar teorias e realizar diagnósticos são etapas importantes, do processo de produção do conhecimento. E nesse particular, embora, já tenhamos progredido bastante ainda há necessidade de avançarmos muito mais. Um outro poblema detectado é que embora, no campo teórico, nós já tenhamos galgado alguns degraus, esse conhecimento ainda, não teve reflexos significativos nas escolas de formação de professores e muito menos nas escolas de Primeiro e Segundo Graus. Urge, portanto, estudarmos as providências no sentido buscarmos as soluções. O problema, como já apontei, no desenrolar do estudo, pode estar no tipo de conhecimento produzido, na seleção do que é ensinado, na maneira de ensina-lo ou mesmo na sua divulgação.
 O espaço que me foi reservado nesse Encontro, não me permitiu aprofundar as questões que levantei, entendo entretanto, que esse trabalho deve ser realizado, pois dessa maneira poderemos obter dados melhores sobre a nossa realidade para podermos melhor vislumbrar as soluçoes.

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