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INTRODUÇÃO:

Após várias décadas de discussão sobre sua função na escola, a Educação Física enquanto componente curricular se vê ainda hoje descaracterizada, sendo muitas vezes substituída pelas mais diversas atividades físicas, realizadas tanto dentro quanto fora da escola.

Apoiadas nos discursos que apontam para a necessidade urgente da realização de atividades físicas em nome da saúde, numa perspectiva reducionista das práticas corporais e da saúde humana, muitas escolas e profissionais aceitam e incentivam a substituição das aulas da Educação Física escolar, pela realização de atividades físicas em outros contextos, para além dos pedagógicos.

Considerando que a substituição da Educação Física escolar por atividades extraclasses ou extra-escolares descaracterizam a função social da Educação Física escolar e da própria escola, nos questionamos como essa prática vem se dando na rede de ensino de Campina Grande/PB, tendo em vista as interfaces realizadas com as academias de ginástica desta cidade. Este estudo teve como objetivo reconhecer e analisar como vem se dando a prática da substituição das aulas de Educação Física da rede privada de ensino da cidade de Campina Grande/PB, por atividades físicas extracurriculares.


METODOLOGIA:

Trata-se de uma pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, caracterizando-se pelo que Gil (2002) chama de estudo de caso coletivo. Essa categoria de estudo de caso tem o propósito de estudar características de uma população, selecionada porque se acredita que por meio dela pode-se aprimorar o conhecimento sobre o universo a que pertence. O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa bastante utilizada nas ciências biomédicas e sociais, sendo realizado a partir da definição da unidade caso. O grupo investigado foi constituído pelos diretores, coordenadores e professores de Educação Física de uma academia de ginástica e uma escola da rede privada de ensino de Campina Grande/PB. Os instrumentos de produção dos dados foram constituídos pelas entrevistas semi-estruturadas, realizadas com professores e gestores dos estabelecimentos investigados. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas, sendo os seus dados categorizados e analisados tomando-se por base as nossas questões de estudo.


 RESULTADOS:

Os dados das entrevistas foram agrupados e categorizados em temas. Para a maioria dos entrevistados, a função da educação física está na necessidade de incutir nos alunos a prática de uma atividade física. Hoje a educação física, para a maioria, integra o projeto político-pedagógico da escola, e isto de fato vem acontecendo. Porém, as atividades extracurriculares vêm substituindo a prática da educação física nas escolas segundo os professores. A prática da liberação das aulas de educação física, para os alunos que freqüentam outras atividades, tanto dentro quanto fora da escola, não é vista como um problema para alguns professores, para eles o importante é o aluno não ficar sem atividade física, e que esta seja orientada por um profissional. A natação foi apontada pela maioria dos professores como a atividade extracurricular mais praticada pelos alunos. O fato de residir perto da academia de ginástica ou do clube é o fator apontado pelos alunos como sendo a justificativa para a tal substituição da aula, como também pelo fato da escolar não oferecer determinadas práticas corporais. No entanto, existem divergências nos discursos dos próprios professores quanto à liberação da educação física escolar para alunos que freqüentam atividades físicas, tanto dentro quanto fora da escola.


CONCLUSÕES:

Analisando os dados deste trabalho, pôde-se constatar que embora, a educação física já seja reconhecida como um componente curricular nas escolas, ela ainda tem sido tratada de forma muito marginal, pois é alocada para fora do período que os alunos estão na escola, além do aumento considerável de alunos que estão abdicando do direito de participar das aulas de Educação Física em suas escolas, sendo levados a realizarem atividades físicas em outros contextos. A sua integração ao projeto político-pedagógico da escola evidencia a sua importância nas relações entre educação física e sociedade. A Educação Física tem uma função educativa e social na formação do cidadão brasileiro, que não se limita ao ato de treinar indivíduos, seja para a prática de esportes de alto rendimento, ou para a execução de movimentos específicos nas academias de ginástica. É interessante notar, que para alguns dos professores entrevistados, a prática da liberação das aulas de educação física não é vista como um problema, porém, atentamos para o fato de que é na escola e na sala de aula que a transmissão e a troca de conhecimentos, ou seja, o aprimoramento de capacidades físicas, morais e intelectuais, acontecem por meio das interações sociais que lá ocorrem.