Integra

Estou tendo a oportunidade de fazer parte de um grupo de estudos denominado Educação Física, História e cultura da Faculdade Diadema-SP, em que tenho o privilégio de estudar e discutir autores atuantes no debate acadêmico da Educação Física desde a década de 1980, tais como João Paulo S. Medina e Jocimar Daolio. Tal estudo tem me dado respaldo significativo no meu processo de formação.

Esses autores contribuem para a compreensão sobre a relação que se faz do corpo (meio pelo qual o professor de Educação Física trabalha), da Educação Física e da sociedade. É deste ponto que partem minhas reflexões.

Apesar de tantos anos na escola, posso dizer que minha experiência e conhecimento na área de Educação Física é pobre, mas essa área sempre me chamou a atenção. Talvez por ser algo que desperta curiosidade em mim, o que justifica, de certa maneira, o fato de atualmente eu ser aluna de um curso de licenciatura em Educação Física. Como a maioria das pessoas, quando eu pensava em Educação Física, a primeira coisa que me vinha à mente era uma idéia reduzida de corpo. Essa idéia não tem mais espaço há seis meses, desde quando ingressei no curso de Educação Física da FAD. Hoje posso dizer que minha visão da área já é bem diferente e complexa e que, como muitos, ainda não está tão definida. Mas sei que Educação Física não cuida só do "corpo" (do ponto de vista biológico), "saúde física", ela vai muito além.

De acordo com os posicionamentos de Medina (1989) e Daolio (2003) tenho percebido que essa área pode contribuir muito para a educação das pessoas, proporcionando a elas o conhecimento acerca do corpo e tornando-as agentes transformadores da sociedade e construtores da própria realidade.

Medina (1989) afirma que:

Entendo que a Educação Física deve ocupar-se do corpo e seus movimentos, voltando-se para a ampliação constante das possibilidades concretas dos seres humanos, ajudando-os, assim, na sua realização mais plena e autêntica. Claro que tal finalidade educativa torna-se inviável se reduzirmos o corpo a uma de suas dimensões apenas. Como também será extremamente difícil alcançar esse propósito se separarmos os aspectos físico, mental, espiritual e emocional do homem e não os percebermos dentro de sua unidade e totalidade.(p. 62)

A parti das idéias do autor podemos pensar corpo, movimento e ser humano de maneira ampliada, chamando a atenção para unidade entre os aspectos físico, mental, espiritual e emocional do homem. Essa é justamente uma nova visão para a educação física, uma vez que antes da década de 1980, havia certo consenso por parte de professores da área, de que a educação física tratava do corpo exclusivamente biológico, e o movimentar-se como sendo somente um gesto biomecanico.

O corpo não pode ser visto só pelo aspecto biológico, o corpo é a expressão da cultura, existe influência cultural em toda sua expressão.

" Ao pensar sobre o corpo, pode-se incorrer no erro de encara-lo como puramente biológico, um patrimônio universal, já que homens de nacionalidades diferentes apresentam semelhanças físicas" (Daolio,2003, p.67). Contudo, entre as semelhanças e diferenças físicas existe ainda um conjunto de significados que cada que cada sujeito carrega consigo, adquirido na sociedade a qual pertence, construídos ao longo do tempo, conhecidas como técnicas corporais ou maneiras de se comportar próprias de cada sociedade, como: a forma de nos expressarmos, como caminhamos, a forma de chutar, os cuidados higiênicos com o corpo, os esportes praticados numa determinada época, são influenciados pela cultura. Devemos considerar todos esses dados para melhor trabalhar o desenvolvimento do indivíduo?

Então, aumentam minhas reflexões!

Estudando esses autores iniciei um processo de crise individual, que me despertou uma consciência da visão dicotomizada com relação a teoria e a prática que, acredito, está enraizada em muitos de nós, e talvez caiba a mim mesma dissipá-la ao longo de meu curso.
Qual é a representação de corpo que os profissionais de nossa área têm e trabalham? Que conjunto de significados a respeito do corpo possuem os freqüentadores das aulas de Educação Física na escola?

Essas perguntas começaram a se formular no meu dia-a-dia, ainda não posso respondê-las completamente de forma mais profunda, estou me analisando para que a soma de minhas experiências seja acrescida dos conhecimentos transmitidos pelos meus mestres e das obras que tenho lido de uma série de autores que defendem a Educação Física capaz de revolucionar, "...não preocupada apenas com o "físico" das pessoas, mas com o ser total, integral e social que é o humano" (Medina , 1998, contracapa).

Analisando todo esse processo de formação, acredito, que mesmo com a prática tradicional , como se tem constituído a Educação Física escolar, era necessário que desde os primeiros anos de estudo do educando, os profissionais tivessem a visão transformadora da concepção da disciplina, não a vendo com a visão mais corriqueira, mecânica, simplista e vulgar que se faz do ser humano, mas aderindo à uma pedagogia que considere o ser humano ao mesmo tempo um ser biológico, psicológico, social e cultural.

Como já falei anteriormente, a Educação Física pode ajudar no processo de educação do aluno, tanto físico, mental, cultural e social, preparando-o para ser agente transformador na sociedade em que vive. Eu acredito nesse processo, embora existam afirmações que os aspectos intelectuais, psicológicos, culturais e sociais são de responsabilidade de outras disciplinas da Educação.
A autora, Ana Loraenne Craveiro de Oliveira é aluna do curso de licenciatura de educação física na Faculdade de Diadema - SP

Referências bibliográficas

  • Medina, João Paulo S. A educação física cuida do corpo... "mente"- Campinas- SP : Papirus , 1948.
  • Daolio, Jocimar. Cultura: educação física e futebol -Campinas- SP: Editora da unicamp, 2003.