Resumo

Esta pesquisa, teoricamente apoiada nos estudos culturais em sua vertente que dialoga com o pós-estruturalismo, teve por objetivo analisar significados construídos por alunos/as de uma escola estadual em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, sobre questões de gênero e sexualidade a partir de suas vivências, principalmente no contexto da disciplina educação física. O estudo foi realizado de forma teórico-empírica, com uma revisão de literatura seguida de estudo de campo; procedeu-se a uma análise qualitativa da realidade estudada e os dados foram obtidos através da realização de entrevistas semiestruturadas com dez alunos/as do terceiro ano do ensino médio, que apresentavam diferentes níveis de participação na parte prática da aula. Através da fala dos/as entrevistados/as foi possível verificar, entre outros resultados relevantes, uma disponibilidade destes/as para a ocorrência de aulas coeducativas e o reconhecimento de que a atual situação inferioriza as mulheres, naquilo que se consolida como um currículo oculto. Neste processo, verifica-se que são conferidos às mulheres papéis secundários, numa prática que muitas vezes separa os alunos das alunas, conferindo àqueles um papel de destaque durante a aula, com maior tempo e a ocupação espacial dos melhores espaços, o que acaba por impactar definitivamente as construções identitárias dos/as envolvidos/as, promovendo expectativas diferenciadas em termos educacionais e corporais. Os/as docentes foram apontados/as como aqueles/as que mais contribuem para a concretização e reprodução de situações que se baseiam em fatores biológicos para determinar os gostos de cada sexo. Foi percebido também através dos relatos que as exclusões ocorridas nas aulas muitas vezes têm origem na falta de habilidade técnica dos/as alunos/as e que as alunas habilidosas são normalmente bem aceitas pelos meninos. Destacam-se também os significados construídos pelos/as alunos/as, com base nas ações dos/as professores/as, de que a disciplina é optativa, o que acaba por contribuir para uma desvalorização da mesma. Relatos da ocorrência de bullying durante a aula, a partir da demarcação de diferenças de varias ordens, também foram feitos, indicando as várias hierarquias construídas nos relacionamentos entre alunos/as. Conclui-se que a questão das relações de gênero apresenta-se como uma das tarefas de mais urgente encaminhamento para que a educação física escolar possa realmente integrar todos/as os/as discentes na cultura corporal de movimento; neste sentido, merecem especial atenção a formação inicial e continuada dos/as docentes, a partir de abordagens que problematizem a própria construção identitária destes. Finalmente, ressalta-se a importância de outros estudos que aprofundem os resultados aqui obtidos e também de pesquisas que verifiquem como a construção identitária diferenciada é feita ao longo da escolarização.

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