Resumo
A Educação Física é uma área do conhecimento interdisciplinar e desenvolve-se nos entremeios da biologia, fisiologia, motricidade e pedagogia, sendo um componente curricular obrigatório na educação básica brasileira e orientada pelos PCN, pelas orientações curriculares estaduais/municipais e pela BNCC. Sua epistemologia está em franco processo de construção e, nesta Tese, seu estilo de pensamento é questionado, tensionado a partir de uma perspectiva teórico-metodológica que apresentamos como somática, ainda marginalizada na escola. Neste contexto, passamos a nos questionar quanto à necessidade de compreender que repercussões sobre a qualidade de vida e sobre a autopercepção corporal poderiam ser observadas em jovens escolares com a aplicação de métodos e técnicas de Educação Somática enquanto aulas de Educação Física. Este questionamento instituiu nosso objetivo geral de pesquisa que foi o de compreender como a Educação Física Escolar Somática (EFES), enquanto proposta teórico-metodológica, contribui para as significações de corpo, saúde e qualidade de vida relacionada à saúde no currículo escolar do ensino médio de uma escola pública maranhense. Assim, metodologicamente desenvolvemos uma pesquisa-ação mista com análises estatísticas e Análise de Conteúdo da Enunciação-ACE. Realizamos as análises estatísticas a partir da aplicação do questionário WHOQOL-bref e do tratamento dos dados pelo software SPSS (Versão 17.0 para Windows), para avaliação da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde – QVRS de dois grupos juvenis – Grupo Controle (n=356) e Grupo Oficina (n=36) – em dois momentos: antes e após a intervenção pedagógica de Educação Somática pelo Grupo Oficina. A intervenção constituiu-se de 63 aulas que aconteceram entre março e agosto de 2018 somente com alunos do Grupo Oficina. Com os resultados do questionário, concluiu-se que as aulas de EFES proporcionaram a elevação dos níveis da QVRS no Grupo Oficina, enquanto o Grupo Controle teve seus escores de QVRS diminuídos. Também, após a realização dos testes estatísticos t, Mann-Whitney Test, Coeficiente de Correlação de Spearmam e Kruskal-Wallis, todos com p<0,050, concluiu-se que a diminuição dos escores no Grupo Controle e o aumento no Grupo Oficina não foram estatisticamente significantes, reforçando a hipótese nula destas variações. Quanto à análise qualitativa a partir da observação de vídeos das aulas, de diários de aula e de grupos focais com os participantes da oficina, construiu-se quatro categorias de análise: 1) Corpo: protagonista da percepção; 2) O sentido e o sentir-se do pensamento somático; 3) Corpos em relação: o soma social; e 4) Ambiente educacional somático. Com a análise destas categorias, concluiu-se que a hipótese inicial da pesquisa foi corroborada, pois as mediações pedagógicas da EFES melhoraram os níveis de QVRS, em todos os seus domínios e promoveram ressignificações positivas em relação aos conceitos de corpo e saúde. As narrativas juvenis, quando cotejadas antes e após as aulas, mostraram que as significações sobre seus corpos, sejam baseadas em autopercepção mais sensível, vibrátil e consciente, sejam em relação aos níveis de percepção corporal, narrados antes do desenvolvimento das aulas de EFES, foram modificadas, de maneira diversa, mas de forma positiva. Assim, nossa defesa e tese é a de que as aulas de Educação Física Escolar Somática – EFES promovem no soma juvenil uma autorregulação viva em suas dimensões física, psíquica e emocional. Como o componente curricular é um conjunto teórico-metodológico educativo, produz sentido de atenção ao cuidado de si e da saúde. São vivências que levam a uma experiência de aprendizagem somática, que potencializam ao professor uma pedagogia para o ensino do cuidado de si e, para o aprendente, a promoção do cuidado de si e da melhoria da qualidade de vida em seus aspectos físico, psicológico, social e ambiental.