Resumo
Este estudo busca compreender como as atividades físicas nas aulas de Educação Física (EF) podem auxiliar uma aluna em tratamento oncológico a ressignificar seu lugar dentro da cultura escolar em que está inserida. Voltado ao fenômeno que ocorre em um cenário restrito e localizado - o aluno cronicamente enfermo não sentir-se pertencente por completo às instituições que o auxiliam em seu desenvolvimento, a saber hospital e escola -, o problema deste estudo tem intenção de inteirar pesquisadores e profissionais da área da educação e também da saúde que manifestem interesse pelo atendimento integral de crianças e adolescentes que permanecem doentes por longos períodos e frequentam escolas regulares de ensino. Nos dias atuais é cada vez mais frequente o retorno escolar de crianças e adolescentes que, em função de problemas de saúde, precisaram afastar-se da escola. Esta nova população de alunos, embora seja especial, expõe questões distintas das populações que apresentam deficiências motoras, intelectuais ou mesmo sensoriais. Justifica-se assim a necessidade de desenvolvimento de pesquisas que contemplem as particularidades dessa população diferenciada. Abordando as questões da contemporaneidade, em que a superabundância de fatos, espaços e individualização de referências remetem à necessidade de dar sentido ao tempo presente, esta pesquisa se dá a partir da observação das vivências nas aulas de EF de uma escola no município de São Paulo para compreender as razões pelas quais uma aluna que frequenta a escola hospitalar do Instituto Oncológico Pediátrico/Grupo de Apoio a Adolescentes e Crianças com Câncer/ Universidade Federal de São Paulo reclama não ser compreendida em sua escola. Sob o método da pesquisa-ação, aproxima-se da teoria habermasiana, cujo foco é voltado à prática do diálogo em busca de consenso para a solução de problemas instalados em uma determinada sociedade e, por meio de entrevistas, envolve a aluna em tratamento oncológico, que vem perdendo a visão devido à doença, sua médica, sua professora de EF e uma das coordenadoras pedagógicas da escola em que está matriculada. Por tratar da cultura local de um espaço escolar e pelo lugar antropológico de viver etapas da vida, este trabalho reflete ciclicamente os inúmeros e complexos fatores que interferem na vida da aluna investigada. Assim, conclui-se que a ressignificação do lugar ocupado pelo aluno paciente oncológico de baixa visão se dá: pela formação autônoma do aluno; pela construção de um ambiente em que todos os agentes envolvidos aprendam; pela compreensão da enfermidade e de suas implicações na construção do currículo escolar; pelo espaço de complementariedade entre a cultura escolar da EF e as possibilidades e necessidades do aluno gravemente enfermo; pela inclusão de aspectos formativos profissionais em locais que envolvam a resolução de problemas do cotidiano escolar; pelo tomar para si as individualidades na presença do todo, por parte dos envolvidos com o processo de escolarização da Educação Básica; pela aprendizagem da docência em paralelo com outros modos de refletir sobre as questões do cotidiano e, finalmente, pela criação de artefatos formativos que possibilitem as trocas de papéis sem a perda da especificidade de cada um.