Resumo

Em outras palavras, lembrando Merleau-Ponty (1975), as coisas quanto mais próximas estão
dos nossos olhos e narizes, tanto mais difícil se toma a percepção clara e precisa das mesmas, nos levando a
viver este mundo sem, ao menos, darmo-nos conta dele, ou seja, vivemos um mundo pré-reflexivo.
Vivemos a Educação Física, dela tentamos falar, porém com uma dose de dificuldade, visto
que é trabalhosa e demorada a articulação do caminho entre o pré-reflexivo e a reflexão, e não menos
simples o caminho do pensamento até as palavras manifestando-se num discurso consistente e coerente.
No entanto, propus-me, nesta ocasião, a apresentar uma reflexão sobre a nossa facticidade1, ou
seja, num determinado momento pensar
essa nossa existência presa intimamente ao mundo e da qual deveríamos tentar nos libertar para
poder, como espectador de um filme ou espetáculo teatral, captar o sentido amplo das coisas
(Silva, 1995, p.7).
Esta reflexão procurará abranger aspectos da produção, construção, transmissão, apropriação
do conhecimento entre professores e alunos em escolas do primeiro grau e, em alguns momentos, ousando
extrapolar indo a um nível mais amplo, sócio-cultural.
Esta atitude baseia-se na crença de que
“primeiro é preciso buscar compreender e aceitar as
coisas como se mostram para, depois, interferir nelas”
(Silva, 1994b, p.261). Pretendo contribuir, portanto,
com a construção de um panorama atual da Educação Física, através da minha leitura do mundo, com vistas
a continuar agindo no sentido daquilo que penso ser desejável para esta área.
REFLETINDO SOBRE O CONHECIMENTO
Quando penso em conhecimento, associo esta representação à imagem de posse, ou melhor,
seja produzindo conhecimento, seja transmitindo ou recebendo um conhecimento já produzido, sempre
penso num processo de apropriação por parte de alguém.
Aproprio-me do, até então, desconhecido e esta posse
faz
de mim alguém diferente. Esse
processo de diferenciação progressiva de mim em relação a mim mesmo leva-me a mudar de lugar.
Conhecimento válido, de acordo com a minha tábua de valores, é todo aquele e só aquele que
me leva a mudar de lugar, sair de um lugar onde era ignorante a respeito de fatos e/ou perspectivas, para
outro onde estes aspectos se desvelam e me tomam curiosa para apropriar-me de outros mais.
Conhecimento válido, para mim, é aquele que é capaz de ampliar minha visão de mim mesma,
minha visão sobre a sociedade e as leis que a regem, minha visão sobre o funcionamento das coisas, dos
Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo.
Rev. paul. Educ. Fis., São Paulo, supl.2, p.29-35,1996
 
 

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