Resumo

O objetivo do estudo foi analisar: a) o reordenamento do mundo do trabalho e conseqüentes modificações no campo da educação física brasileira, tendo, como mediação, a sua regulamentação da profissão; b) as implicações da regulamentação da profissão, no campo da intervenção e da formação/qualificação profissional da educação física e de outras áreas; c) as estratégias dos trabalhadores para o enfrentamento do quadro criado a partir da estruturação dos conselhos profissionais de educação física. Para tal, inicialmente, foi elaborado um quadro teórico acerca das mudanças contemporâneas no mundo do trabalho, com as modificações nas exigências de qualificação no campo educacional. Evidenciou-se, ainda, o debate epistemológico da educação física da década de 90 e o reordenamento do seu trabalho, a partir do resgate da teoria marxista a respeito do fundamento da crise do capital e da categoria trabalho em suas duas dimensões: ontológica e histórica. Em um segundo momento, reconstituiu-se, a partir da bibliografia sobre o tema, a discussão, no interior da categoria dos professores de educação física, desde a década de 1940, que desembocou na sua regulamentação da profissão, em 1998. Por último, foram abordadas as conseqüências da regulamentação da profissão da educação física e as resistências dos trabalhadores, tanto da área, quanto de outras, como artes marciais, capoeira, dança, lutas e yoga, contra as ingerências dos conselhos profissionais de educação física. Neste ponto, foram utilizadas fontes documentais e realizadas 11 entrevistas semi-estruturadas com lideranças das várias manifestações. Como resultado da pesquisa, encontrou-se que: a) o capital utiliza-se de todas as formas sociais de intervenção para o controle da profunda crise na qual está mergulhado, enquanto o trabalho, por outro lado, se subsume ao capital, porém trava, com este último, uma intensa luta para sua libertação; b) a educação física atua de forma mediata para compor o novo quadro de formação humana que o capital demanda, ao tornar-se um distintivo de classe, na escola, para os que podem consumi-la, perdendo centralidade para as práticas corporais do meio não-escolar as quais compõem a ideologia da empregabilidade, por meio do trabalho precário; c) a regulamentação da profissão tratou-se de estratégia corporativista de adaptação à gerência da crise do capital, afetando o trabalho e a formação/qualificação de várias práticas corporais; d) tendo em vista o caráter de estrutura avançada do capitalismo do conselho profissional de educação física, as estratégias resistivas dos trabalhadores se dividiram entre a adoção, ou ruptura, deste mesmo modelo para as suas áreas, mediadas pelas defesas da adaptação ou não às demandas contemporâneas do capital. Conclui-se, a partir desta tese, a necessidade de suplantar a relação capital, criando condições objetivas para o mundo da liberdade, no qual se possa assegurar a democratização dos meios de produção, cultura e, assim, o acesso e desenvolvimento pleno das práticas corporais.

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