Resumo

Esta pesquisa partiu da percepção da possibilidade, ainda não explorada, de desenvolvimento da atividade de Educação Física no âmbito da Educação Profissional e Tecnológica, na realidade do estado do Rio Grande do Sul. O objetivo deste estudo foi investigar a visão dos sentimentos e carências, desejos e expectativas dos professores de Educação Física do Ensino Médio e dos alunos dos cursos técnicos profissionalizantes, com relação à inexistência ou insuficiência da Educação Física nesse setor do ensino. O pressuposto teórico tem como referência especial a concepção fundamental da filosofia de Ernst Bloch, aqui relacionada com a ausência e as possibilidades de desenvolvimento da Educação Física nessas instituições, no que concerne à valorização das expectativas humanas e das faltas sentidas ou percebidas, como indicadoras das possibilidades e oportunidades de mudança. A pesquisa foi realizada em cinco instituições localizadas em três municípios do estado do RS. O grupo de participantes constituiu-se de cem alunos, sendo quarenta dos cursos de Ensino Integrado (que têm Educação Física no currículo), sessenta dos cursos técnicos profissionalizantes (que não têm Educação Física no currículo), cinco professores de Educação Física do Ensino Médio e Integrado e, ainda cinco supervisores, um de cada instituição. A metodologia, num primeiro momento é de caráter quantitativo e num segundo momento qualitativo, descritivo e interpretativo. Os instrumentos empregados na obtenção de dados foram: observações, questionários, entrevistas semiestruturadas e diário de campo. Para isso, utilizou-se o processo de triangulação de fontes e de sujeitos, teórica e reflexiva. As triangulações realizaram-se em três níveis de análise, seguindo o modelo de Lacey. Os resultados mostram certa consciência da importância da Educação Física na ótica dos alunos, pois eles evidenciam a associação da atividade física com a saúde e o bem-estar, a interação e a convivência com os colegas, o relaxar da pressão das aulas teóricas, mas percebemos que muitos ainda não têm a visão de que a Educação Física ajuda no rendimento escolar e no desempenho intelectual, porque acreditam que não influencia no aprendizado que buscam no ensino profissional, embora a maioria, entre os meninos, afirme sentir falta da Educação Física. Há unanimidade entre os professores de Educação Física nos sentimentos de privação aos alunos de práticas saudáveis, da participação em competições esportivas, da compensação da atividade laboral, da formação integral, não apenas como atletas, mas com relação aos valores que poderiam ser trabalhados nessas aulas. Fazer a boa combinação da educação técnica, compreendendo a técnica como parte essencial do homem, ser dinâmico e nunca acabado, e entendendo a Educação Física como também central numa visão humanista do educando, porque o homem é corpo e alma, mente e corpo, sem as separações doentias que a cultura racionalista procedeu, essa é a grande finalidade de quem compreende o homem como corpo, espírito e técnica. O tema investigado abriu possibilidades para pensar a Educação Física na perspectiva de sua inserção na totalidade concreta do ensino técnico e de atuar nessa perspectiva para viabilizar a plenitude das possibilidades humanas, num movimento de busca de transformação.

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