Resumo

A interface da Educação Física com a Psicologia tem sido construída, tradicionalmente, pela área denominada Psicologia do Esporte e da Atividade Física. Embora seja legitimada a importância de pesquisas e aplicação de conhecimento dessa área, cuja base epistemológica encontra-se nas Ciências Naturais, parece haver uma carência de estudos que investiguem as relações eu - outro, no sentido de contribuir com o desenvolvimento afetivo-cognitivo individual, uma vez que razão e emoção são consideradas instâncias comportamentais separadas. No Brasil, no âmbito da Educação Física escolar, as propostas pedagógicas atuais têm focado na necessidade de desenvolver o autoconhecimento mediante a percepção corporal, bem como conhecer atividades corporais próprias da nossa cultura, o que contribuiria com a formação de cidadãos críticos; entretanto, pouca atenção tem sido destinada às questões inerentes ao desenvolvimento afetivo da pessoa em sua relação com os outros, sejam colegas, professores, familiares, objetos de conhecimento e ainda, suas relações consigo mesma. Esse afastamento nas relações eu - outro não tem sido muito diferente na formação em Educação Física no Ensino Superior, em que, muitas vezes, o docente universitário se coloca em uma posição de superioridade intelectual em relação ao graduando, além de enfatizar um distanciamento afetivo nessas relações. Essa falta de proximidade parece não trazer contribuições para a formação dos futuros profissionais, uma vez que não os sensibiliza para a importância de despender atenção as relações eu - outro, tanto para a construção do conhecimento em Educação Física, como para uma atuação profissional competente e pautada na ética. Dessa perspectiva, o presente trabalho teve por objetivos: a) procurar compreender, mediante um estudo de caso, aspectos das relações eu - outro que sejam relevantes para a formação em Educação Física; b) tentar promover uma interlocução entre Educação Física e Psicologia, com o intuito de fomentar novos diálogos teóricos e metodológicos entre essas áreas de conhecimento. O construtivismo semiótico-cultural em Psicologia foi adotado como referencial teórico-metodológico, por considerar: 1) afetividade e cognição como inseparáveis no desenvolvimento individual; 2) a importância das relações eu - outro nos processo de construção de conhecimento; 3) a associação dinâmica e transformadora entre indivíduo e cultura. Foram realizados três encontros com entrevistas, no decorrer de três anos, com um docente de Educação Física de uma Instituição de Ensino Superior privada. As interpretações das análises indicaram questões de interesse nas relações entre docentes, graduandos e objetos de conhecimento, no processo de ensino e aprendizagem em Educação Física, tais como a hierarquização do conhecimento e a falta de comprometimento da parte de vários graduandos e docentes com esse processo. Portanto, evidenciou-se a necessidade de aproximação dialógica entre Educação Física e Psicologia, com o intuito de rever criticamente noções e ações acerca de temas como corporeidade e intersubjetividade, assim como as dicotomias mente - corpo e razão - emoção. Nesse sentido, a Psicologia construtivista semiótico-cultural amplia as possibilidades de se elaborar novas reflexões teórico-metodológicas e filosóficas acerca das problemáticas da Educação Física e do Esporte, assim como pode beneficiar-se das questões trazidas por esse diálogo

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