Integra

INTRODUÇÃO:

As constantes transformações no mundo do trabalho provocam mudanças progressivas no processo educativo. Em vista disso, a Lei 9394/96 (LDB), aponta para que a Educação Básica assegure aos educandos a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e que forneça-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Já na Alínea III do Art. 27, diz que os conteúdos curriculares devem contemplar a "orientação para o trabalho". Ao ocorrer transformações no mundo do trabalho mudam-se as competências necessárias ao trabalhador, hoje na forma "toyotista" de organizar o trabalho em células de produção, espera-se do trabalhador a "capacidade para resolver situações não previstas", onde a criatividade, a capacidade comunicativa e a educação continuada são necessárias ao exercício profissional (Kuenzer, 2003, p. 51). Diante disso, nosso estudo objetivou: identificar as competências necessárias aos trabalhadores da Indústria de Alimentos da Microrregião do Alto do Rio do Peixe de Santa Catarina (AMARP) e relacioná-las com as competências trabalhadas nas aulas de Educação Física Escolar. Com isso, pretendemos contribuir para o debate pedagógico na Educação Física Escolar e para a formação de cidadãos preparados para a inserção no mundo do trabalho.


 METODOLOGIA:

Para realizar a pesquisa, inicialmente, identificamos as indústrias de alimentos que atuam na Microrregião do Alto do Rio do Peixe de Santa Catarina e que possuem mais de 30 funcionários. A escolha do setor de alimentos deu-se porque: a) na Microrregião do Alto do Rio do Peixe, que abrange 17 municípios, 25% das industrias da região são "indústrias de produtos alimentícios"; b) as industrias de alimentos da região possuem característica exportadora, o que inseri a região no mundo globalizado de produção; e, c) nessas industrias existem, constantes investimentos em novas tecnologias. Identificamos 6 industrias de alimentos que atendiam o critério, número de funcionários, e entrevistamos um dirigente de cada unidade de produção, totalizando 11 dirigentes. Num segundo momento da investigação entramos em contato com 11 Escolas de Educação Básica da região, onde entrevistamos os professores de Educação Física e observamos e filmamos suas aulas. O critério de escolha das escolas foram: número de estudantes; oferecer Educação Básica Completa; e, acessibilidade na coleta dos dados. Para a analise das entrevistas utilizamos o processo de categorização a posteriori da entrevista Minayo (1994) e para análise das filmagens utilizamos o método de resenha crítica Baecker (1996).


 RESULTADOS:

Como resultado da pesquisa identificamos, que as indústrias de Alimentos da Região necessitam de funcionários com competências comuns e diferenciadas por setor. As competências comuns aos setores são: criatividade, ser crítico, trabalho em grupo e as competências 5s (utilização, organização, limpeza, saúde e autodisciplina). As competências específicas do setor produtivo, são: resistência física, estar aberto ao treinamento no local do trabalho, assiduidade e saber julgar um bom produto. As competências específicas do setor técnico-administrativo são: competência técnica e visão sistêmica. Já as competências trabalhadas pela Educação Física Escolar foram: resistência física (em 9 escolas); competência técnica-esportiva (em todas as escolas); trabalho em grupo; criatividade (em 5 escolas); disciplina (em 4 escolas); higiene (em 3 escolas); e, autonomia (5 escolas). Observamos que a Educação Física nas Escolas investigadas é basicamente o ensino diretivo de esporte no Ensino Fundamental e a prática livre de esporte no Ensino Médio, por isso a predominância das competências técnico-esportivas e resistência física. Ao compararmos as competências necessárias à Indústria e a competências trabalhadas na Educação Física Escolar, constatamos que a mesma contribui, basicamente para a formação de trabalhadores no setor produtivo da indústria, o qual necessita de trabalhador condicionado fisicamente e que pratique esportes que mantenham e ampliem esse condicionamento.


CONCLUSÕES:

Observamos que as competências necessárias na Indústria de Alimentos da região, são próprias do sistema "toyotista" de produção, entretanto essas empresas, ainda empregam uma grande massa de trabalhadores braçais. Mesmo buscando inovações tecnológicas, as indústrias continuam empregando trabalhador característico do sistema "taylorismo/fordismo", os quais estão em dois níveis: a) ao trabalhar na linha de produção atrelado a máquina exige-se conhecimentos técnicos da máquina, resistência física e disciplina necessárias as funções repetitivas: b) ao trabalhar ne gerência exige-se, além do conhecimento técnico, o conhecimento do processo de produção e a função de "transmissão dos valores, das atitudes e dos padrões de comportamentos socialmente elaborados segundo os interesses do capital" (KUENZER,1989, p. 64). Quanto a Educação Física, observou-se que através de uma pedagogia voltada para a aprendizagem esportiva e da promoção da saúde, busca formar um trabalhador dotado de resistência física e disciplina, com conhecimento básico de algumas modalidades esportivas. Competências essas próprias dos trabalhadores do sistema "taylorista/fordista". Mesmo que os diretores das empresas, salientam a necessidade de trabalhadores críticos, criativos e que saibam trabalhar em grupo. A Educação Física Escolar da região ainda não adota procedimentos metodológicos que possibilitem o desenvolvimento de tais competências.