Resumo

Este estudo teve por objetivo investigar: (a) as reminiscências de sujeitos participantes dos 36 anos da experiência da TVE Maranhão, indicando a formação de uma cultura favorável, ou desfavorável, ao uso da televisão em sala de aula; e (b) em que medida tal cultura interferiu no encerramento da experiência. Optou-se pela História Oral, resgatando o conceito de memória, de Marieta de Moraes Ferreira, como um método que registra a memória viva, trazendo à tona uma história esquecida, visando a construção de uma imagem do passado abrangente e dinâmica. Para a triangulação dos dados, utilizou-se a análise documental. Foram realizadas 22 entrevistas gravadas com sujeitos que participaram da experiência entre alunos, funcionários e orientadores educacionais. A análise das entrevistas foi feita segundo o Modelo da Estratégia Argumentativa, baseado na Teoria da Argumentação, desenvolvida por Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca. Os depoentes apontaram dois períodos distintos no funcionamento da TVE Maranhão. No primeiro, entre 1969 e 1986, teria havido grande investimento, com material para todos os alunos, orientadores de aprendizagem formados de acordo com a proposta pedagógica e suporte tecnológico para as telessalas, considerado um período de ascensão e de formação de uma cultura favorável à TV em sala de aula. No segundo período (1986 e 2005), coincidindo com a mudança na filiação administrativa, do Estado do Maranhão para o Governo Federal, teria havido diminuição gradativa dos recursos e ingresso de professores da rede pública sem nenhuma formação para o uso da TV em sala de aula e, por isso, com outra prática pedagógica, o que teria ocasionado a decadência. Os resultados mostraram grande distância entre as concepções dos professores que ingressaram tardiamente no sistema e os demais depoentes, tanto sobre o funcionamento, quanto sobre os motivos de encerramento da TVE Maranhão. Os primeiros conceberam as telessalas como salas de uma escola convencional e o encerramento devido a dois fatores: falta de interesse político e o fato de a televisão ter perdido o status de novidade. Os demais consideraram o sistema uma proposta totalmente inovadora e atribuíram o encerramento, além da falta de recursos materiais, à mudança de expectativa quanto ao trabalho realizado nas telessalas, desprestigiado, tanto internamente, na medida em que os antigos orientadores e supervisores 9 desacreditam no trabalho dos próprios colegas, como por parte da comunidade, que começa a preferir colocar seus filhos na rede convencional. 

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