Resumo

A docência se efetiva em uma rede relacional e multidimensional na qual professores e professoras mobilizam cognição, criatividade, imaginação, afetividade e sensibilidade. Ao incorporarem a sensibilidade como fator estruturante do processo de conhecimento, percebem a lógica do conjunto de relações que se dá entre as pessoas e assumem a complexidade que envolve os processos de ensinar e de aprender. Nesse movimento constroem e delineiam modos de ser professor e professora. Lançando mão de práticas pedagógicas organizadas a partir de uma abordagem de educação intercultural, mobilizam a criação de processos educativos gerando a integração e a interação criativa, crítica e cooperativa tanto entre os diferentes sujeitos, quanto entre seus contextos sociais, econômico-políticos e culturais. Partindo dessas premissas, o presente estudo, filiado à linha de pesquisa Ensino e Formação de Educadores, busca analisar a possibilidade da relação entre a educação intercultural e o desenvolvimento da sensibilidade na prática pedagógica desenvolvida por docentes durante um curso de formação continuada. A pesquisa é de abordagem quantitativa e qualitativa, do tipo interpretativa. Foram analisados os dados contidos em diários de bordo e em ensaios pedagógicos. O tratamento metodológico dos materiais da pesquisa segue os pressupostos da análise de conteúdo (FLICK, 2004). Os sujeitos são vinte e oito professoras da educação fundamental da rede pública de sete cidades de Santa Catarina. Elas participaram da primeira edição (2009/2-2010/1) de um curso de formação continuada semipresencial, em nível de extensão, chamado de Educação para a Diversidade e Cidadania. A temática mediadora do curso centrou-se na abordagem intercultural de educação. A partir da análise dos dados da pesquisa, foram formuladas seis categorias para compreender e orientar os significados da prática pedagógica desenvolvida, tanto nas salas de aula desses sujeitos junto aos estudantes, quanto no curso de formação continuada. As categorias enunciam conceitos indicadores da relação existente entre a prática pedagógica intercultural e o desenvolvimento da sensibilidade: necessidade do diálogo; respeito e valorização da diversidade (importância da aceitação das diferenças, importância do acolhimento e afeto, importância da alteridade), unidade na diferença, entreajuda e interdependência de todos, relação entre escola, família e comunidade; reestruturação cultural das formas de agir, pensar e sentir o mundo. As reflexões aqui contidas consideram essas seis categorias como dimensões articuladoras da aprendizagem intercultural em sua relação com a sensibilidade. A promoção e o entrelaçamento dessas dimensões nos contextos educativos dependem substancialmente da prática pedagógica do professor e da professora e de sua capacidade de mobilizar as dimensões lógicas do processo de conhecimento. Nesse sentido, a pedagogia do auscultar ou pedagogia da potência pode ser mediadora da mudança na estrutura relacional. Ela se evidencia capaz de alterar as lógicas de organização, especialmente a partir dos diálogos possíveis que podem ser realizados entre os sujeitos e seus contextos. Por outro lado, essa prática pode contribuir na construção de outros significados à própria linguagem e sua multiplicidade nos espaços educativos. A mobilização desse processo, feita por sujeitos em interação, potencializa o desenvolvimento da sensibilidade e, em seu movimento autopoiético, possibilita a aprendizagem numa perspectiva multidimensional. 

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