Educação e Medicina Esportivas Ganham Destaque em Evento Científico Vinculado às Olimpíadas
Por Clarissa Vasconcellos (Autor).
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O congresso destacou entre seus temas o problema do sedentarismo, que está matando mais de cinco milhões de pessoas por ano em todo o mundo.
Os Jogos Olímpicos de Londres terminaram há pouco mais de uma semana, mas antes do início da maior competição esportiva do mundo a Grã-Bretanha recebeu um dos principais eventos pré-olímpicos, que atrai pesquisadores da área de educação física e medicina esportiva de todo o planeta: a International Convention on Science, Education and Medicine in Sport (Icsemis).
Tradicional, o congresso existe há quase quatro décadas, já que oficialmente começou nas Olimpíadas de Montreal, em 1976. Já teve outros nomes, mas o atual, Icsemis, foi cunhado duas olimpíadas atrás. "É um congresso tão importante que, mesmo com o boicote dos americanos às Olimpíadas de Moscou, a delegação dos Estados Unidos foi ao congresso em 1984. E nas Olimpíadas de Los Angeles, quando russos boicotaram o evento, acabaram indo também ao congresso. Ele tem uma força grande, é o primeiro ato oficial antes dos Jogos Olímpicos", conta ao Jornal da Ciência Victor Matsudo, vice-presidente do International Council of Sport Science and Physical Education (ICSSPE).
A entidade é a responsável pela organização do evento, junto com o Comitê Olímpico Internacional, o Comitê Paraolímpico Internacional e a Federação Internacional de Medicina Esportiva. Este ano, temas como governança no esporte, inclusão e bem estar dos atletas estavam na pauta.
Sedentarismo - Novos dados sobre o sedentarismo apresentados no Icsemis acabaram chamando mais a atenção dos participantes. Matsudo conta que durante o congresso foram discutidas as informações publicadas pela revista médica britânica Lancet, que constatam que o sedentarismo mata tanto quanto o cigarro. A pesquisa estima que um terço dos adultos não tem praticado atividades físicas suficientes, o que está causando cerca de 5,3 milhões de mortes por ano ao redor do mundo.
"Se ele mata igual ao tabagismo, passa a ser segunda causa de morte mundial, já que só há uma coisa que mate mais que tabagismo: a hipertensão", pontua Matsudo. Chamada de "pandemia" pelos pesquisadores, o sedentarismo não era considerado um fator de risco até 1992, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu seu perigo, segundo lembra Matsudo.
"De lá pra cá, a situação mudou muito. Em 2002, a OMS publicou um relatório importante mostrando que o sedentarismo seria a nona causa de morte em todo o planeta. Em 2009, a OMS anunciou que já era a quarta causa e agora temos esses dados", relembra o vice-presidente do ICSSPE, também coordenador do projeto Agita São Paulo de combate à inatividade física.
"Enquanto não conseguirmos aumentar a indignação da sociedade com o sedentarismo, vamos continuar somente dando entrevista e publicando artigo sobre o tema. A população se indigna muito pouco; parece que faz parte morrer de infarto e diabetes, como se fosse diferente de morrer de Aids", argumenta.
No Brasil - O Icsemis terá sua versão para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Mas provavelmente não será na capital fluminense, seguindo a tradição do congresso de ser hospedado numa cidade próxima. No caso da última edição, o evento foi para um país vizinho da Inglaterra, a Escócia, pois o consórcio de universidades envolvidas na organização (Brunel University West London, Liverpool John Moores University, University of Strathclyde Glasgow, University of Ulster e University of Wales Institute Cardiff) levou o projeto para Glasgow.
Matsudo diz que o evento de 2016 poderia ser numa cidade como São Paulo, conhecida por sua excelência acadêmica e interessante por sua proximidade ao Rio. "Porém, isso não impede que seja em Manaus ou Porto Alegre. Depende das propostas das universidades", alega. No entanto, ele "torce" para que a tradição de se hospedar o congresso em outra cidade do mesmo país ou arredores seja quebrada em 2016. "Sei que isso envolve problemas de hospedagem, mas eu votaria para ser no Rio porque o Brasil deveria mudar essa tradição e pela primeira vez fazer o evento na cidade dos Jogos", opina.
Os que não puderam participar do evento nos últimos anos podem conferir o material discutido no Centro Esportivo Virtual/CEV (www.cev.org.br), que ainda não publicou os documentos do Icsemis 2012, embora já guarde o material dos congressos que precederam as Olimpíadas de Pequim e de Atenas. Laércio Elias Pereira, coordenador geral do CEV, conta que só do congresso que precedeu os Jogos de Atenas há mais de mil trabalhos.
O portal, criado há 16 anos, conta com livros, periódicos, textos jurídicos, teses e trabalhos de congressos nacionais e internacionais, além de ter estabelecido uma rede entre pesquisadores, que contam com um perfil no site. Entre as raridades de sua biblioteca, conta Pereira, há um material do 1º Congresso Brasileiro de Educação Física, ocorrido em 1925.