Resumo
A difusão das atividades de aventura na natureza pode representar uma possibilidade de participação e engajamento nas oportunidades de vivências no lazer na contemporaneidade. Embora os diferentes públicos possam ter contato com as modalidades de atividades de aventura na natureza, o olhar sob a participação de crianças ainda representa espanto e receio, ao considerar, mesmo que de forma controlada, os riscos inerentes à sua prática. Assim, esta pesquisa teve por objetivo geral analisar o envolvimento de crianças e as relações familiares em atividades de aventura na natureza em Florianópolis (SC). Trata-se de uma pesquisa de campo, do tipo descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa das informações. Participaram seis crianças praticantes regulares de atividades de aventura na natureza, na faixa etária de cinco a 12 anos, e os respectivos pais e/ou mães que ensinam a elas as modalidades, totalizando seis adultos (duas mães e quatro pais). As crianças foram selecionadas, prévia e intencionalmente. Como instrumentos de coleta das informações foram utilizados, complementarmente entre si: roteiro de observação sistemática e participante, e diário de campo para registro das informações; roteiros de entrevistas semiestruturadas, aplicadas aos pais e/ou às mães e às crianças; registros em forma de fotografias e vídeos; registros da internet (redes sociais), realizados pelos pais e/ou pelas mães e pelas crianças em suas páginas pessoais; registros em forma de desenhos pelas crianças; e diário de significados de palavras. As informações foram analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo, do tipo categorias temáticas. Os resultados revelam que incentivo, inspiração, apoio, influência e insistência dos pais e/ou das mães representam fatores primordiais para a inserção das crianças nas atividades de aventura na natureza. Contudo, os pais e/ou as mães sentem-se reflexivos sobre o nível de insistência que devem exercer ao ensinar e ao incentivar os(as) filhos(as), tendo cautela para que o envolvimento seja prazeroso e não gere o afastamento momentâneo ou, até mesmo, permanente. A permanência das crianças nestas atividades está ligada ao prazer e ao divertimento que as vivências proporcionam, atreladas à sociabilidade com outras pessoas (crianças e adultos). Os momentos de lazer familiar investigados oportunizam a aproximação entre pais/mães e filhos(as), devido ao ensino e à aprendizagem, aos deslocamentos para as vivências e às trocas de acontecimentos e conhecimentos. Os pais e/ou as mães visam transmitir a importância de se estar em contato com a natureza, de realizar uma modalidade físico-esportiva ao longo da vida, deixando as crianças livres para decidirem se participarão de competições e seguirão carreira profissional como atletas. Os aprendizados construídos durante as vivências das modalidades transcendem para o cotidiano das crianças sob a forma de valores como determinação, respeito, autonomia e confiança, projetando-os para outros ambientes de convivência, como a escola. O contato com o ambiente natural tende a promover condutas pró-ambientais, especialmente em relação aos animais e aos elementos locais (vento, água e outros), auxiliando na reflexão de ações que otimizem o espaço de vivência. O despertar das sensações e emoções tende a ser intensificado. Desta forma, este estudo se apresenta como um contributo acerca da motivação da atividade física na infância e das ressonâncias do lazer familiar, envolvendo os conhecimentos construídos intergeracionalmente, por meio da educação para e pela aventura.