Resumo

A eritropoietina (EPO) é um hormônio glicoproteico produzido principalmente pelos rins quando há diminuição da taxa de oxigênio circulante e sua função primordial é de regular a eritropoiese. Seu análogo invadiu os bastidores do cenário esportivo de alto rendimento, apresentando função ergogênica, já que atua sobre o coração, circulação, resistência aeróbica, aumentando a oxigenação tecidual, além de neutralizar a sensação de fadiga. Além disso, sabe-se que a EPO possui ações em tecidos não hematopoiéticos com função antiapoptótica, anti-inflamatória, de proliferação e diferenciação celular. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da administração crônica de EPO aliado ao treinamento físico sobre a modulação autonômica cardiovascular em ratos Wistar. Para isso, os animais foram distribuídos em quatro grupos: grupo controle sedentário (GCS, n=10), grupo controle treinado (GCT, n=8), grupo EPO sedentário (GES, n=10) e grupo EPO treinado (GET, n=8). Foram administrados 50 UI/kg de EPO (subcutânea) e o treinamento físico foi de natação (incrementando volume e intensidade). Depois de oito semanas de protocolo, foram avaliados os níveis basais da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA), a sensibilidade barorreflexa, o tônus autonômico cardíaco, a variabilidade da FC (VFC), da PA sistólica (VPAS) e diastólica (VPAD), a hipertrofia cardíaca e a fibrose cardíaca e renal. Para todos os resultados utilizou-se nível de significância de p≤0,05. Os animais do GES e GET apresentaram valores aumentados de hemácias, hemoglobinas e hematócritos, comparados com seus respectivos grupos controles. Os animais do GCT exibiram uma bradicardia de repouso comparada ao GCS e um aumento do componente espectral de alta frequência (HF) na VFC. Porém, a EPO desencadeou um aumento da PAS no grupo sedentário comparado com o GCS, o que não foi evidenciado na PAD e PA média (PAM). Também não se observaram diferenças na sensibilidade barorreflexa e VPAS entre os grupos analisados, apenas na VPAD, onde o GET apresentou menor valor do componente espectral de baixa frequência (LF) comparado ao GCT. Não houve diferença entre o efeito vagal e simpático entre os grupos, por outro lado, o GCT apresentou menor tônus simpático do que o GCS. Curiosamente, o GET teve maior tônus vagal comparado com o GCT, a frequência intrínseca de marcapasso cardíaco (FIMC) apresentou-se aumentada no GES comparado com o GCS e o índice simpato-vagal mostrou-se reduzido nos grupos que receberam EPO comparados com seus respectivos controles. O GCT apresentou hipertrofia cardíaca e o GES apresentou um aumento no diâmetro do núcleo dos cardiomiócitos em comparação com o GCS. Ambos os grupos que receberam EPO apresentaram fibrose cardíaca e renal, comparados com os grupos controles. Sumarizando, nossos resultados sugerem que a administração crônica de EPO pode proporcionar uma alteração autonômica cardiovascular em ratos Wistar, sendo que, o aumento da ação parassimpática observada sobre o coração desses animais, pode ter ocorrido na tentativa de reverter o aumento da FIMC causada pela fibrose. Nossos dados indicam ainda que o protocolo de treinamento físico por natação utilizado em nosso estudo foi ineficiente em reverter os danos aqui observados pelo uso da EPO.

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