Resumo

A prática de exercícios físicos caracteriza-se como ação não farmacológica disponível para a grande maioria dos indivíduos, e que pode desempenhar papel fundamental no tratamento da obesidade. Apesar de estudos sugerirem que intensidades de treinamento impostas baseadas em parâmetros fisiológicos clássicos modulam positivamente parâmetros fisiológicos, outros estudos apontam para uma relação inversa entre imposição de intensidade e adesão aos programas de treinamento. Neste sentido, a autosseleção da intensidade de exercício pode ser uma ferramenta útil na busca de maiores níveis de auto eficácia, tolerância e satisfação ao exercitar-se, possivelmente aumentando a adesão a programas de treinamento físico. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi comparar os efeitos de um programa de treinamento aeróbio com intensidades autosselecionada e imposta (60-70% da Frequência Cardíaca de Reserva - FCres) sobre respostas afetivas, parâmetros de saúde e adesão ao treinamento, de adolescentes com obesidade. Após divulgação na mídia local foram incluídos na amostra, 37 adolescentes (13 a 18 anos) obesos (índice de massa corporal - IMC > P95th), púberes (estágios 3 e 4). Os indivíduos foram alocados aleatoriamente nos grupos: Grupo intensidade imposta (GII, N= 19) ou Grupo de intensidade autosselecionada (GIA, N= 18). As avaliações dos parâmetros antropométricos, de composição corporal e de aptidão cardiorrespiratória foram realizadas antes do início da intervenção e após 12 semanas, sempre no mesmo horário do dia. Os voluntários alocados no GII tiveram sua intensidade de exercício prédeterminada e imposta, correspondente a 60-70% da FCres. O GIA obteve prescrição de treinamento com os adolescentes escolhendo a própria intensidade de treinamento durante cada sessão. Ambos os grupos realizaram 35 minutos (5 minutos ? aquecimento inicial) de treinamento por sessão de exercícios, e foram realizadas medidas de frequência cardíaca (FC), percepção subjetiva de esforço (PSE) e de afeto a cada 5 minutos durante toda a sessão. GIA apresentou maior afeto médio durante as 12 semanas quando comparados aos pares do GII (grupo, p = 0,06; tempo, p = 0,27; interação, p = 0,05), o oposto aconteceu com a FC (grupo, p = 0,02; tempo, p = 0,00; interação, p = 0,60) e a PSE (grupo, p = 0,00; tempo, p = 0,01; interação, p = 0,01). Adicionalmente, independente do grupo de alocação, os adolescentes com adesão igual ou superior a 75% das sessões permaneceram, durante todo o programa de treinamento, com maiores médias de respostas afetivas (grupo, p = 0,06; tempo, p = 0,27; interação, p = 0,05). Para os parâmetros antropométricos, de composição corporal e aptidão cardiorrespiratória, após 12 semanas de treinamento verifica-se redução na massa corporal, IMC, somatório de dobras cutâneas, circunferência da cintura e quadril, e aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2max), independente do grupo. Esses resultados demostram que independentemente da autosseleção ou da imposição da intensidade do treinamento, as repostas afetivas devem ser consideradas na formulação de programas de exercícios visando uma maior adesão, sem abrir mão da eficácia na melhoria de parâmetros morfofisiológicos importantes nas abordagens terapêuticas para com a obesidade na adolescência. 

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