Resumo
O diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma das doenças crônicas não transmissíveis de maior incidência mundial. Fatores genéticos associados ao estilo de vida sedentário podem desenvolver resistência à insulina e tolerância a glicose promovendo um quadro de hiperglicemia. O exercício físico é considerado um dos tratamentos não medicamentos mais eficientes para o controle da doença, porém alguns efeitos benéficos agudos do exercício como hipotensão pós-exercício (HPE) e consumo excessivo de O2 após exercício (EPOC), bem como maior biodisponibilidade de óxido nítrico (NO) e liberação de bradicinina são menos pronunciados nessa população, uma vez que o DM2 apresenta disfunção endotelial e metabólica. A hipótese do presente estudo foi que exercícios em domínios de intensidades mais elevadas (acima do limiar de lactato) seriam necessários para maximizar os efeitos agudos benéficos do exercício em DM2. Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar e comparar os efeitos agudos do exercício aeróbio em diferentes intensidades relativas ao limiar de lactato (LL) sobre a hipotensão e consumo de oxigênio após exercício, liberação de bradicinina (BK), biodisponibilidade de NO, insulinemia e consumo de gorduras e carboidratos em indivíduos com DM2. Para tanto, 11 DM2 (62,1±9 anos; índice de massa corporal 28,8±4,6 kg.m2-1; glicemia de jejum 154,7±56,8 mg.dL-1; pressão arterial sistólica 129,5±10,1 mmHg) participaram do estudo realizando inicialmente um teste incremental para determinação do limiar de lactato, e três sessões experimentais de 20 minutos em cicloergômetro, ou sessão controle sem exercício, em sequência randomizada com intervalo de no mínimo 72 horas entre as sessões: 1) sessão à 120% do LL (S120); 2) sessão à 80% do LL (S80); 3) e sessão controle sem a realização de exercício (SCON). O lactato, glicemia, consumo de O2 (VO2), produção de CO2 (VCO2), razão das trocas respiratórias (R), oxidação de carboidratos e gorduras, pressão arterial e a percepção subjetiva de esforço foram mensurados em repouso (pré sessões de exercício e controle), a cada 5 minutos de exercício e sessão controle, e 15 e 45 minutos de repouso após as sessões experimentais. A insulina, resistência a insulina, bradicinina, insulina e NO foram mensurados em repouso (pré exercício e sessão controle), e à 15 e 45 minutos de recuperação após as sessões experimentais. S120 promoveu HPE (118,8±8mmHg), EPOC (4,3±0,5ml.kg.min-1) e maior disponibilidade de NO (9,26±1,73µM), bem como oxidação de gorduras em DM2 após exercício aeróbio, o que não ocorreu na sessão S80 e SCON. Além disso, S120 e S80 se mostraram eficientes na diminuição da glicemia em DM2 após o exercício, porém quando essa variável foi comparada entre S120 e S80 não foram encontradas diferenças significativas. S120 também apresentou maior taxa de consumo de carboidratos durante o exercício, contudo, S80 obteve um consumo maior de carboidratos na recuperação em relação a S120. A BK parece não exercer influencia na captação de glicose sem a presença de insulina induzida pelo exercício em DM2. Portanto, um maior estresse metabólico e cardiovascular parece ser necessário para promover ajustes agudas benéficas após exercício para o DM2, como HPE, EPOC, aumento de Biodisponibilidade de NO e maior consumo de gorduras após a sessão de exercício aeróbio