Resumo

Os estudos de organização da prática mostram que ela pode ser organizada de forma constante, variada ou combinada para a aprendizagem da estrutura (aspecto invariante) e dos parâmetros da habilidade (aspecto variante). Um dos anos mais importante para a área Comportamento Motor foi o de 1979, no qual, um estudo que investigou a organização da prática na aquisição de habilidades motoras que teve destaque, que verificou que durante a aprendizagem, a prática em blocos era melhor que a prática aleatória, mas nos testes de aprendizagem o desempenho dos grupos se invertia. Esta temática predominou na área de Aprendizagem Motora no até o final de 1980. Posteriormente, em 1990 foi identificado por meio de um estudo de revisão que a maioria dos experimentos que tiveram diferença entre os tipos de prática manipularam o aspecto invariante da habilidade. Os resultados observados nas medidas de erro relativo (invariante) e erro absoluto (variante), as quais permitiram inferenciais sobre aprendizagem do aspectos invariantes e variantes, respectivamente, indicaram que iniciar a prática de forma constante, com maior repetibilidade da habilidade, favorece a aprendizagem do aspecto invariante. Em seguida a prática variada, com menor repetibilidade, propicia a aprendizagem do aspecto variante. Estes estudos utilizaram um referencial de que a aprendizagem acontece separadamente para aspecto invariante e para o aspecto variante. Contudo, ao adotar um referencial de que o tempo relativo (aspecto invariante) é selecionado pelo executante, e o tempo total (aspecto variante) varia de uma execução para outra, inclusive pela variabilidade inerente do executante, é possível especular que a combinação de prática constante-aleatória tenha os mesmos efeitos na aprendizagem dos dois aspectos que a prática constante-blocos. O objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos da prática combinada com variação do aspecto invariante na aprendizagem de uma habilidade motora. Participaram do estudo 28 voluntários de ambos os sexos, destros e inexperientes na tarefa, alocados randomicamente no grupo constante-blocos (GCB) e o grupo constante-aleatória (GCA). A tarefa consistiu em realizar um sequenciamento numérico em um teclado de computador, devendo acertar o tempo entre as teclas e também o tempo total. O experimento consistiu de duas fases: fase de aquisição com 180 tentativas, sendo 60 tentativas constante seguidas de 120 tentativas variadas de acordo com o grupo. Após 24h houve um teste de retenção e um de transferência, com 10 tentativas cada. Na fase de aquisição, a prática constante requeria realizar a sequência com os tempos relativos de 22,2%, 44,4%, 33,3% e o tempo total de 900ms foi usado em todas elas. A prática variada requeria mais duas variações de tempo relativo além do já executado na prática constante, nomeadamente 44,4%, 33,3%, 22,2% e 33,3%, 22,2%, 44,4%. O conhecimento de resultados (CR) sobre o erro absoluto e erro relativo estava disponível após cada tentativa. Após 24 horas foi realizado o teste de retenção com o primeiro tempo relativo 22,2%, 44,4%, 33,3%, 5 minutos após o teste de transferência com um novo tempo relativo, mas sem CR. Foram analisados a média e o desvio-padrão do erro relativo e o erro absoluto. Os resultados mostraram que ambos os grupos tiveram o mesmo desempenho, e uma justificativa pode ser pela manipulação do aspecto invariante fazendo que os dois grupos se igualassem.

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