Resumo
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma das principais causas de deficiência e morte em todo o mundo. Até 70% dos indivíduos acometidos por AVE apresentam hemiparesia da extremidade superior e, mesmo após a reabilitação, mais de 65% têm dificuldade em utilizar o membro afetado nas atividades de vida diária. Terapeutas e pesquisadores têm desenvolvido diversas técnicas que visam a reabilitar a função do membro superior (MS), após o AVE, dentre as quais, com o desenvolvimento tecnológico, a terapia assistida por robô emerge como uma nova abordagem. A recuperação, após danos neurológicos, tem como fundamento a neuroplasticidade e, embora ainda não seja claro qual a dosagem ideal para promovê- la, tem-se argumentado que intervenções, enfatizando práticas intensivas e repetitivas, podem ser de alto valor, o que é possível ser realizado com a intervenção robótica. O objetivo central desta tese foi investigar o efeito da Terapia Robótica, com o dispositivo Assistive Rehabilitation Machine (ARM), e da Cinesioterapia, na reabilitação do MS de indivíduos hemiparéticos pós-AVE, na fase crônica. Para responder ao objetivo da tese, foi conduzido um ensaio clínico (estudo 2), precedido de uma revisão sistemática (estudo 1). No estudo 1, foi investigada a influência da Terapia Robótica na neuroplasticidade para a recuperação da função do MS, após lesão neurológica. Foram realizadas buscas nas bases de dados PubMed, PEDro, Cochrane, Lilacs, SciELO e nos periódicos Capes, usando as palavras-chave: robótica, neuroplasticidade, reabilitação e membro superior. Foram encontrados 467 artigos na busca inicial e, após a seleção, 9 artigos foram incluídos, nos quais foram encontradas evidências de que a plasticidade neuronal pode ser desenvolvida a partir do treinamento motor do MS, associado a dispositivos robóticos, após lesão neurológica, principalmente nos casos de AVE. Faz-se, necessária, porém, a realização de mais estudos para um consenso sobre a intensidade, frequência e tempo de intervenção. No estudo 2, vinte e um indivíduos adultos hemiparéticos, de ambos os sexos, acometidos há mais de 6 meses por um único episódio de AVE isquêmico, participaram de um ensaio clínico. Eles foram randomizados para o Grupo Terapia Robótica (GTR; n=12) ou para o Grupo Cinesioterapia (GC; n=9). Ambos realizaram 18 sessões, de aproximadamente uma hora para o MS, numa frequência de três vezes por semana e foram avaliados pelas escalas Fugl-Meyer (FM), Wolf Motor Function Test (WMFT), Ashworth Modificada e pela goniometria, na semana anterior ao início das intervenções, na semana após as 18 sessões de tratamento e um mês após o término das intervenções, como seguimento. Para a análise estatística, foi realizada a ANOVA, mista de 2 vias, e, quando necessário, aplicou-se o post hoc de Bonferroni; o tamanho do efeito foi calculado pelo d de Cohen e o nível de significância adotado foi p < 0,05. Houve aumento da função motora do MS, pela escala FM, no GTR pós-intervenção (FM = 38,7 ± 12,7) e no seguimento (FM = 40,5 ± 12,2) quando comparados com pré-intervenção (FM = 32,7 ± 13,3). Nesse grupo, também foi encontrado aumento na força de elevação do ombro no WMFT pós- intervenção (2,0 ± 1,2 Kg) e no seguimento (2,3 ± 1,2 Kg), comparados com pré- intervenção (1,2 ± 1,4 Kg). No GTR também houve aumento das amplitudes de movimento (ADMs) passivas de flexão e abdução do ombro, após a intervenção e no seguimento, comparados com pré-intervenção. Esses efeitos não foram encontrados no GC. Conclui-se que a Terapia Robótica foi efetiva para as variáveis função motora do MS, força muscular para a flexão do ombro e melhora das ADMs de flexão e abdução do ombro hemiparético dos participantes acometidos por AVE, na fase crônica.
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