Resumo

O comportamento sedentário, aliado à má alimentação, tem atingido cada vez mais crianças, adolescentes e suas famílias em todo o mundo. A redução drástica do tempo dedicado à movimentação ativa e espontânea, aliada à má alimentação, tem gerado grande preocupação dos profissionais que se dedicam à prevenção de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão arterial na infância e adolescência. Programas educativos têm sido considerados uma ferramenta importante para a melhora deste quadro. O objetivo do estudo foi avaliar os impactos de um Programa Recreativo de Educação em Saúde Infantil (PRESI), desenvolvido por meio de um acampamento e acompanhamento, com encontros semanais, sobre fatores de risco cardiovascular e mudanças no estilo de vida em crianças com sobrepeso e obesidade. O PRESI foi dividido em duas fases, na FASE 1 envolveu um acampamento de férias de cinco dias, denominado ACAMP, e a FASE 2 compreendeu 12 semanas de acompanhamento com um encontro semanal totalizando 12 encontros de duas horas cada (12 semanas). Participaram do ACAMP 20 crianças (9 meninos e 11 meninas; 9,4±1,1 anos), e destas, 12 (9,4±0,96 anos) participaram também do acompanhamento durante 12 semanas. Foram mensuradas variáveis antropométricas, da pressão arterial e frequência cardíaca de repouso, além da realização do teste de estresse térmico Cold Pressor Test, coletas sanguíneas para avaliação de variáveis bioquímicas (glicemia, lipemia e apolipoproteínas A-1 e B), nível de atividade física, consumo alimentar, qualidade do sono e nível de conhecimento sobre saúde. Para a comparação entre pré e pós-acampamento foi utilizado o teste t de student (t) e para três momentos (pré e pós-ACAMP e 12 semanas), que apresentaram distribuição normal, foi utilizado ANOVA para medidas repetidas. Usou-se o teste d’Cohen para verificar a magnitude das respostas pela amostra ser pequena. Para comparação de proporções de alimentos entre os grupos, foi empregado o teste McNemar. Foi adotado p<0.05 para diferenças estatisticamente significativas. Resultados da Fase 1: Redução significativa da PAS (115,15±10,40 vs 105,80±8,58mmHg) e da PAD (77,10±9,26 vs 70,00±6,49mmHg) foi observada quando os momentos pré vs pós ACAMP foram comparados respectivamente (p<0,05). Quando comparamos pré e pós ACAMP observamos que: o HOMA Beta apresentou uma diminuição de 56,2% (98,8); do perfil lipídico a média do CT diminuiu 18,95 mg/dl, do LDL 9,7mg/dl, do Não HDL 16,15 mg/dl e triglicerídeos 27,05 mg/dl; e as APO A1 e B tiveram uma queda média de 8%(-10,3 mg/dl) e 9%(-7,6 mg/dl), respectivamente. Fase 2: a PAS de repouso reduziu 8,92mmHg e 6,58mmHg e a PAD 1,67mmHg e 2mmHg após ACAMP e as 12sem, respectivamente, quando comparadas com o momento pré. A insulina basal média caiu 5,59 µUI/ml após o ACAMP, quando comparado com o pré e esses valores se mantiveram reduzidos após as 12 semanas. CT diminuiu 13,4% após o ACAMP (p<0,003) e 18,9% após 12 semanas e a APO A1 teve uma queda de 9,42mg/dl pós ACAMP (p=0,31) e 4,42mg/dl (p=0,59) após 12sem, quando comparados com pré. O NAF total aumentou (16,95%, 172,99 METs) e dentre os tipos de AFs que tiveram maiores aumentos, o Lazer foi o que melhorou significativamente, tanto durante a semana (NAFLDS aumento de 26,06%, p< 0,001) como no final de semana (NAFLFS aumento de 14,1%, p< 0,001). Houve queda no tempo sedentário durante a semana de 1585,71±208,58 para 1408,57±174,10min (p = 0,004) e durante o final de semana o tempo reduziu de 282,14±41,23 para 240,71±36,17min (p < 0,001). O escore da qualidade do sono diminuiu após as 12 semanas (58,46±4,87 para 50,52±4,63, p=0.074) e o nível de conhecimento sobre educação em saúde relação ao pré aumentou 16,7% pós ACAMP e 19,12% após 12 semanas (p0,05). Concluiu-se que cinco dias em um acampamento e 12 encontros de educação em saúde, com prática de atividade física e incentivo ao estilo de vida saudável contribuíram para redução e manutenção da massa corporal, redução de fatores de risco cardiovascular como pressão arterial de repouso, CT, triglicérides. Com isso, ocorreu a melhora no estilo de vida das crianças, com aumento no NAF e diminuição do tempo destinado às atividades sedentárias, melhora na qualidade do sono e escolha por alimentos mais saudáveis.