Resumo

O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da depleção prévia de glicogênio muscular sobre o tempo de exaustão em exercício abaixo e acima de do segundo limiar de lactato. Sete indivíduos foram submetidos a um teste progressivo (20 W.min-1) até a exaustão, com determinação do VO2max, do primeiro (LL1) e do segundo (LL2) limiar de lactato. Após um período de no mínimo 24 horas, os indivíduos retornaram ao laboratório e pedalaram durante 90 minutos na intensidade referente a 50% da diferença entre LL1 e LL2 (ΔLL50%), seguido por séries de 1 minuto a 125% do VO2max, com 1 minuto de pausa, para depleção do glicogênio muscular. Nas 48 horas seguintes, os indivíduos seguiram uma dieta balanceada ou com baixo teor de carboidrato, em ordem aleatória, com a subseqüente realização do protocolo experimental. Nessa situação, os indivíduos pedalaram a Δ50% ou a 25% da diferença entre LL2 e a carga máxima (ΔLW25%), até a exaustão. Ambos os testes foram realizados em dias diferentes, em ordem aleatória e precedidos de dietas diferentes, totalizando 4 testes ao final do protocolo experimental. A cada sessão, foram coletadas amostras de sangue venoso para dosagens de glicose e lactato plasmático durante o teste. Além disso, foram mensurados o consumo de oxigênio (VO2) e a produção de dióxido carbono (VCO2), para o cálculo da razão de trocas respiratórias (R=VCO2/VO2) e cálculo da contribuição de carboidrato e gordura como substrato energético. Apenas cinco indivíduos completaram todos os procedimentos experimentais. O tempo de exaustão em ΔLL50% foi similar entre os dois tipos de dieta (57,16 ± 25,24 vs 57,22 ± 24,24 min; p>0,05) mas foi significativamente menor após uma dieta baixa em carboidrato para ΔLW25% (23,16 ± 8,76 vs 18,30 ± 5,86; p<0,05). A quantidade total de carboidratos e lipídios utilizada durante o exercício foi similar, embora existisse uma tendência a maior consumo de carboidrato após uma dieta normal, principalmente em ΔLW25% (p=0,08). As concentrações de glicose e lactato plasmáticos não sofreram alterações expressivas em função da dieta em nenhuma das intensidades, exceto para o lactato no momento da exaustão em ΔLW25% (p=0,08). O R sofreu alteração decorrente da dieta apenas em ΔLW25%, sendo estatisticamente significante a partir do minuto cinco até a exaustão (p<0,05). A percepção subjetiva de esforço foi similar entre as situações experimentais para ambas intensidades. Esses resultados sugerem que, a depleção de glicogênio muscular induzida através da manipulação de exercício-dieta, causa um maior prejuízo no tempo de exaustão e maior alteração metabólica nas intensidades acima, mas não abaixo, do LL2.