Resumo
O alongamento é uma prática amplamente utilizada para o aumento da amplitude de movimento articular (ADM), porém ainda não está clara a influência de parâmetros musculotendíneos nos ganhos de ADM, uma vez que, há diversos tecidos no complexo músculo tendíneo, e cada um deles é afetado de maneira diferente pelo alongamento de acordo com sua composição. O componente tendíneo formado basicamente por tecido conjuntivo parece responder de maneira diferente ao muscular quando exposto ao alongamento. Com isso, a presente tese teve como tema central compreender os exercícios de alongamento frente às propriedades mecânicas e passivas do complexo músculo tendíneo, e para isso foram desenvolvidos três estudos. O Estudo 1 foi uma revisão narrativa da literatura que teve por objetivo apresentar e discutir estudos sobre as implicações do alongamento muscular na ADM, bem como sua influência nas propriedades do tendão do Calcâneo. Este estudo concluiu que tempos contínuos entre 5 e 10 minutos de alongamento estático em uma única sessão apresentam diminuição da rigidez tendínea, já tempos intervalados inferiores a um minuto, aplicados de forma aguda ou crônica, não apresentam alteração. Dessa forma, duas hipóteses puderam ser propostas, a primeira seria que alongamentos contínuos maiores de 1 minuto já poderiam influenciar na rigidez tendínea e a segunda de que um tempo mínimo de cinco minutos é necessário. O Estudo 2 foi uma revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos randomizados e não randomizados de uma única sessão de alongamento cujo objetivo foi verificar e sintetizar as evidências sobre o efeito agudo do alongamento estático na ADM e nas propriedades mecânicas passivas do tendão do Calcâneo de adultos jovens fisicamente ativos comparado a um grupo controle ou outra técnica de alongamento. Este estudo também teve o propósito de embasar as escolhas de parâmetros para o protocolo de alongamento crônico a ser utilizado no Estudo 3. Na revisão sistemática e metanálise foram incluídos quatro estudos, e sua conclusão foi que não houve alteração significativa para as variáveis analisadas, o que traz a hipótese de ser necessário a aplicação de protocolos crônicos de alongamento para mudanças na rigidez tendínea. O Estudo 3 é um estudo original que aplicou um treinamento de flexibilidade de seis semanas com o intuito de comparar a alteração da ADM e das propriedades mecânicas passivas do tendão do Calcâneo frente a tempos contínuos de alongamento. Foram avaliados 30 participantes de ambos os sexos divididos em três grupos, sendo dois de alongamento (2 e 5 minutos) e um grupo controle (sem intevenção). O protocolo de intervenção foi aplicado 3x na semana durante 6 semanas. As variáveis (ADM, contração isométrica voluntária máxima, histerese, torque passivo, deslocamento da junção miotendínea, área de secção transversa do tendão, rigidez da unidade músculo-tendínea, muscular e tendínea) foram avaliadas previamente ao início do treinamento, logo após o término da intervenção e duas semanas depois (follow up). Os resultados mostraram não haver diferença entre os grupos. Na compração entre os momentos, o protocolo 2 minutos e o grupo controle apresentaram aumento da ADM, porém o protocolo de 2 minutos propiciou aumento da ADM que se manteve após follow up de 15 dias, sendo essa alteração atribuída às alterações viscoelásticas musculares e não tendíneas, já o grupo de 5 minutos não apresentou alteração na ADM, podendo o desconforto provocado pelo tempo de manutenção da posição ser a causa desse resultado.