Resumo

Introdução: Pessoas que residem em instituição de longa permanência para idosos
(ILPI) tendem a apresentar condições de saúde inferior àquelas que vivem em
comunidade. Após a institucionalização, o idoso pode apresentar declínio cognitivo
acentuado e menor aptidão física o que, consequentemente, resulta em dependência
funcional. É importante que estratégias de intervenção que envolvam motivação e
efetividade sejam desenvolvidas para aumentar os estímulos cognitivos e físicos desses
indivíduos. Objetivos: Investigar os efeitos do exercício físico baseado em realidade
virtual com exergames (PhysEx) no desempenho cognitivo e funcional, marcha,
sintomas de depressão e medo de cair de idosos institucionalizados. Objetivos
adicionais, como a determinação da intensidade do treinamento com base no esforço
subjetivo, e a realização de uma estimativa para grupos amostrais a partir dos principais
desfechos estudados também foram contemplados. Método: Dois experimentos foram
realizados, sendo um estudo de longitudinal para verificar o efeito agudo do PhysEx
(experimento 01), e um estudo longitudinal para investigar o efeito crônico
(experimento 02). Foram recrutados 70 indivíduos, dos quais 19 idosos (≥65 anos de
idade) residentes em três ILPIs da cidade do Rio de Janeiro participaram dos estudos.
Em ambos os experimentos, os indivíduos foram aleatoriamente alocados em dois
grupos (experimental, Grupo Wii – GW; e controle, Grupo Controle Ativo, GCA). O
GW foi submetido à realização de seis exercícios baseados em realidade virtual com
exergames, enquanto o GCA realizou seis atividades com movimentos similares ao
GW, porém, sem a utilização da realidade virtual. No experimento 01 o desempenho
cognitivo dos participantes foi avaliado antes e imediatamente após uma única sessão de
treinamento (30-45 min). Para tal avaliação foram utilizados os testes Digit Span
Forward (memória de curto prazo) e Backward (memória de trabalho) e a fluência
verbal, categoria animais (memória semântica e função executiva). No experimento 02
foram mantidas as mesmas características do treinamento, sendo as sessões realizadas
duas vezes por semana, perfazendo um total de 12-16 sessões. A frequência cardíaca
dos participantes foi monitorada durante as sessões de treinamento. Foram avaliados
nos momentos pré e pós-intervenção os desempenhos cognitivo (cognição global, Mini
Exame do Estado Mental; função executiva, Trail Making Test A; navegação espacial,
Floor Maze Test; memória de curto prazo, Digit Span Forward; memória de trabalho,
Digit Span Backward; memória semântica/função executiva, fluência verbal) e
funcional (força de membros inferiores, teste de levantar/sentar; força de membros
superiores, teste de flexão do cotovelo; mobilidade, teste de levantar e ir 2,44m).
Adicionalmente foram avaliados parâmetros cinemáticos da marcha (comprimento e
variabilidade do passo), sintomas de depressão (Geriatric Depression Scale) e o medo
de cair (Falls Efficacy Scale – International). As estatísticas descritiva e inferencial
foram utilizadas, sendo adotados como dado principal as diferenças pós e pré (delta pós
– pré, sessão e intervenção) entre os grupos. Em complemento utilizou-se o tamanho do
efeito de Cohen. Resultados: O experimento 01 não revelou diferença entre os grupos
nos desfechos investigados. Entretanto, um tamanho do efeito moderado foi identificado
na memória semântica/função executiva do GW em relação ao GCA, mostrando umaperspectiva positiva de efeito agudo dos PhysEx. O experimento 02 revelou aumentoestatisticamente significante na memória de curto prazo (p=0,05) e mobilidade (p=0,01) do GW em comparação ao GCA. O tamanho do efeito variou de pequeno a grande em todos os desfechos investigados, sendo favoráveis ao GW. A intensidade do treinamento foi moderada para ambos os grupos (GCA = 50-68% e GW = 51-71% da FCMáx). Conclusão: Os estímulos com exercícios físicos baseados em realidade virtual com exergames promovem efeitos positivos (agudo e crônico) no desempenho cognitivo e funcional de idosos institucionalizados. Uma intervenção de 12-16 sessões de exercícios com exergames pode melhorar a memória de curto prazo e a mobilidade, além de contribuir na prevenção do declínio cognitivo e reduzir o risco de dependência funcional dos idosos institucionalizados. A inclusão desses exercícios na rotina das ILPIs pode contribuir para a prevenção de demências e dependência funcional.

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