Resumo

Pacientes com doença renal crônica (DRC) em hemodiálise, têm baixo nível de aptidão física, além de declínio cognitivo. Os benefícios de exercícios físicos nesses pacientes ganharam corpo, no entanto poucos estudos buscaram avaliar tais benefícios sobre a função cognitiva. O objetivo desse estudo foi avaliar o efeito do treinamento físico intradialítico resistido e aeróbio em indivíduos com DRC em hemodiálise sobre a função cognitiva e a capacidade funcional. Incluídos pacientes com idade entre 18 e 85 anos, em diálise por no mínimo três meses e sem contraindicação médica para exercício físico. Assim, 46 pacientes foram randomizados em dois grupos: 24 no grupo controle (GC), e 22 no grupo exercício resistido (GR). No final de 12 semanas o GC passou ("estudo tipo crossover") a realizar exercícios aeróbios (GA). Após 24 semanas de estudo foram recrutados para o GA mais 7 pacientes que não haviam sido recrutados previamente. Os exercícios foram realizados por 12 semanas nas primeiras duas horas de hemodiálise, três vezes por semana por 50-60 min. O GA utilizou ciclo ergômetro e o GR realizou onze exercícios (2 séries de 15-20 repetições), os exercícios para membros superiores foram realizados antes do início da hemodiálise. A intensidade do esforço para ambos os grupos foi de 12 a 16 na escala BORG. O GC realizou exercícios metabólicos à guisa de placebo. Variáveis avaliadas: nível de atividade física (questionário IPAQ versão curta), função cognitiva (mini-exame do estado mental - MEEM) e capacidade funcional (teste de caminhada de 6 minutos - TC6M). A análise estatística foi realizada por intenção de tratar. Dados analisados por ANOVAtwo way para medidas repetidas, expressos em média ± desviopadrão. Significância estatística 5%. Entre o primeiro recrutamento e o início do treinamento, sete pacientes desistiram (cinco no GC e dois no GR). Ao final de 12 semanas houve ainda cinco perdas no GC, quatro no GR, e quatro no GA. Assim, para análise final foram incluídos 14 pacientes no GC (54,3±18,6 anos, 8 homens), 15 no GR (53.9±13.4 anos, 12 homens) e 17 no GA (58,4±17.1 anos, 7 homens). A função cognitiva e capacidade funcional apresentaram melhora nos três grupos após a intervenção, MEEM: GR: pré 23,5±4,0 e pós 25±3,3 pontos, GA: pré 22,5±4,0 e pós 24,5±4,0 pontos e GC: 21,5±3,5 pré e pós 22,5±3,0 pontos (p<0,001), e TC6M: GR: 529±137,5 m pré e pós 554±137,5 m, GA: 540±107,5 m pré e pós 545±111,0 m, e GC: 507±155,5 m pré e pós 545±121,2 m (p=0,004). O comportamento do IPAQ foi semelhante, com tendência a deslocamento dos pacientes para categorias de maior nível de atividade física nos três grupos, ainda que sem atingir significância estatística. Ocorreu melhora tanto na capacidade funcional como na cognitiva com exercícios resistidos e aeróbios em pacientes com DRC em hemodiálise, entretanto, o grupo controle também apresentou melhora nessas capacidades, talvez relacionada a aumento espontâneo da atividade física nesse grupo.

Acessar