Resumo
Embora o efeito hipotensor do treinamento físico sobre a pressão arterial clínica de indivíduos hipertensos já esteja amplamente demonstrado, seu efeito sobre os níveis pressóricos de 24 horas permanece controverso. De fato, tem sido verificada uma grande variabilidade nas respostas pressóricas de hipertensos ao treinamento físico, o que pode se dever às características individuais e/ou a aspectos ligados aos diferentes subtipos de hipertensão arterial. Desta forma, esse estudo visou verificar e comparar o efeito do treinamento físico aeróbio sobre a pressão arterial clínica e ambulatorial de 24 horas de indivíduos "hipertensos na MAPA", "hipertensos do avental branco" e normotensos. Para tanto, 62 indivíduos hipertensos estágios I e II e normotensos sedentários, com idade entre 20 e 50 anos, foram classificados em três grupos: hipertensos na MAPA (HMA - medidas clínica e de 24 horas elevadas), hipertensos do avental branco (HAB - medida clínica elevada e de 24 horas normal) e normotensos (NT - medidas clínica e de 24 horas normais). Posteriormente, cada grupo foi dividido em dois subgrupos: treinado e controle. No início e após quatro meses de estudo foram realizadas: a medida da pressão arterial clínica e de 24 horas (monitor oscilométrico – SpaceLabs 90207), e a determinação do VO2pico (consumo de pico de oxigênio - teste ergoespirométrico em cicloergômetro, 30 W/3 min). Os grupos treinados realizaram três sessões semanais de exercícios em cicloergômetro, com intensidade evoluindo do 1º para o 2º limiar ventilatório e duração aumentando de 20 para 50 min. Os grupos controles permaneceram sedentários durante o estudo. Independente do grupo (HMA, HAB, NT), o treinamento físico aeróbio reduziu o peso (-1,0±0,4 kg, p < 0,05) e o índice de massa corporal (-0,3±0,1 kg/m2, p < 0,05), e aumentou o VO2pico (+1,4±5,1 ml.kg-1.min-1, p < 0,05), o que não ocorreu com os indivíduos controles, que não modificaram essas variáveis. O treinamento também diminuiu a pressão arterial clínica sistólica (-6±2 mmHg, p < 0,05) e média (-6±2 mmHg, p < 0,05), o que não aconteceu nos controles. Além disso, essa redução pressórica se correlacionou positivamente com o nível pressórico inicial (PAS, r= 0,48; PAM, r= 0,50, p < 0,05). Quanto à monitorização ambulatorial da pressão arterial, não houve modificação significante dos níveis pressóricos de 24 horas, vigília e sono de indivíduos treinados e controles dos grupos HMA, NT e também dos indivíduos treinados do grupo HAB após o treinamento físico. Por outro lado, houve aumento da pressão arterial diastólica de sono (+8±4 mmHg, p < 0,05) nos HAB controles. Em conclusão, quatro meses de treinamento físico aeróbio reduz a pressão arterial clínica de indivíduos hipertensos e normotensos, não modifica a pressão arterial de 24 horas, mas impede o aumento tempo-dependente da pressão arterial diastólica de sono de "hipertensos do avental branco", o que pode contribuir para um melhor prognóstico nesses indivíduos