Resumo

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos do treinamento físico no perfil metabólico, cardiovascular e renal de ratas ooforectomizadas submetidas à sobrecarga de frutose. Para isso, foram utilizadas 32 ratas Wistar fêmeas (66±1,4g) ooforectomizadas (retirada bilateral dos ovários), divididas em 4 grupos: sedentário (OS) e treinado (OT), tratado com frutose (100g/L água) sedentário (FOS) e treinado (FOT). Os grupos treinados foram submetidos a treinamento físico aeróbio, realizado em esteira ergométrica rolante, durante 8 semanas (1hora/dia, 5dias/semana). O teste de esforço máximo realizado ao final do protocolo evidenciou aumento na capacidade de exercício das ratas dos grupos OT e FOT em relação aos OS e FOS. O consumo de água e de ração foi mensurado ao final protocolo. Os grupos tratados com frutose, FOS e FOT apresentaram maior consumo de água (frutose) quando comparados aos grupos OS e OT. Com relação ao consumo de ração, o grupo FOS apresentou menor consumo quando comparado aos grupos OS e FOT. Os grupos treinados, OT (307±5,2 vs. 329±4,3 gramas no OS) e FOT (329±1,5 vs. 365±3,4 gramas no FOS), apresentaram redução do peso corporal no final do protocolo em relação aos seus respectivos grupos controles, OS e FOS. O grupo FOS apresentou aumento de peso do tecido adiposo branco visceral (59,4%) quando comparado ao OS, enquanto o treinamento físico reduziu esses valores no FOT em relação ao FOS. O grupo OS apresentou valores de glicemia dentro da faixa de normalidade. As ratas dos grupos OT e FOT apresentaram valores de glicemia inferiores aos das ratas do FOS. O grupo FOS (194,50±5,11 mg/dl) apresentou valores de triglicerídeos plasmáticos superiores quando comparado aos grupos OS (86,26±3,02 mg/dl), OT (81,83±1,21 mg/dl) e FOT (117,88±4,86 mg/dl) no final do protocolo. No teste de tolerância à insulina, no qual a glicemia foi medida antes e 4, 8, 12 e 16 minutos após a injeção de insulina, a constante de decaimento da glicose plasmática entre os tempos 4 e 16 min foi menor no grupo OS quando comparado ao OT, enquanto o FOT apresentou uma tendência à redução (p<0,1) em relação ao grupo FOS. Os valores de pressão arterial sistólica, diastólica e média (PAM) registrados batimento-a-batimento através de um sistema de aquisição de sinais biológicos (2KHz) estavam acima dos padrões de normalidade nas ratas do grupo OS (PAM: 121±2,5 mmHg), enquanto nos OT (PAM: 113±1,5 mmHg), FOS (PAM: 109±1,7 mmHg) e FOT (PAM: 111±1,4 mmHg) encontraram-se dentro da faixa de normalidade. Os animais treinados, OT (345±8 vs. 377± 5 bpm no OS) e FOT (339±6 vs. 363±5 bpm no FOS), apresentaram bradicardia de repouso quando comparados aos sedentários, OS e FOS, evidenciando a eficácia do treinamento físico. O treinamento físico também foi eficiente em aumentar a sensibilidade dos pressorreceptores (avaliada pela injeção de doses crescentes de fenilefrina e nitroprussiato de sódio) no grupo OT em relação ao OS, e no FOT em relação ao FOS, tanto para respostas taquicárdicas reflexas quanto para bradicárdicas reflexas. A avaliação do controle autonômico, realizada através do bloqueio do parassimpático com atropina e do simpático com propranolol, evidenciou aumento no efeito vagal nos grupos treinados, OT (80±13 vs. 44±2 bpm no OS) e FOT (76±12 vs. 45±7 bpm no FOS), em relação aos sedentários, OS e FOS. O efeito simpático foi maior no grupo FOS (54±10 vs. 40±16 bpm no OS) quando comparado ao OS, enquanto no FOT (20±3 vs. 40±16 bpm no OT e 54±10 bpm no FOS) foi observada uma diminuição nesses valores em relação aos OT e FOS. Não houve diferença entre os grupos na freqüência cardíaca intrínseca. Na avaliação da função ventricular realizada através do registro direto da pressão intraventricular esquerda no repouso, durante e após um protocolo de sobrecarga de volume, observou-se que o grupo OT apresentou aumento da derivada de relaxamento do VE (em todos os momentos da avaliação) e de contração do VE (durante a sobrecarga de volume e o retorno deste procedimento) em relação ao grupo OS. O grupo FOS não mostrou diferenças importantes na função ventricular em relação ao grupo OS. Além disto, não foram observados benefícios na função cardíaca no grupo FOT, sugerindo que o consumo de frutose possa ter impedido a melhora de contratilidade verificada no OT. Com relação a função renal, avaliada através do volume urinário e parâmetros bioquímicos na urina, observou-se glicosúria e poliúria nos grupos tratados com frutose (FOS ou FOT). O treinamento físico induziu redução da excreção de proteínas no grupo FOT em relação ao grupo FOS (0,30±0,05 vs. 1,10±0,13 g/l), sugerindo atenuação da lesão renal. Em conjunto os resultados do presente estudo permitem concluir que ratas submetidas à privação dos hormônios ovarianos e ao consumo crônico de frutose apresentam disfunções metabólicas, cardiovasculares, renais e na modulação autonômica cardíaca que são em grande parte atenuadas pelo treinamento físico, sugerindo um importante papel desta abordagem não farmacológica no manejo de fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome metabólica em mulheres menopausadas.

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