Resumo

A regeneração cutânea apresenta demanda significativa de processos e estruturas que dependem da disponibilidade de aminoácidos. A estimulação elétrica de alta voltagem (EEAV) é um recurso extensamente estudado e ratificado como eficaz na cicatrização de feridas cutâneas, mas é desconhecido o mecanismo de regeneração cutânea sob intervenção terapêutica em rato desnutrido e o comportamento tecidual frente à recuperação nutricional. O objetivo deste estudo foi analisar os efeitos da desnutrição na regeneração cutânea, da EEAV na desnutrição, bem como a associação com dieta normoproteica. Trinta e cinco ratas Wistar foram divididas igual e aleatoriamente em cinco grupos: Controle (C), Controle Tratado (CT), Desnutrido Controle (DC), Desnutrido Tratado (DT) Desnutrido Tratado em Recuperação (DTR). Os animais dos grupos DC, DT e DTR receberam dieta hipoproteica e os grupos C e CT dieta normoproteica, por 45 dias. Após esse período foi removido 1 cm2 de pele na região interescapular e 24 horas depois iniciada EEAV (100 Hz; polo alternado diariamente, iniciando pelo negativo; limiar motor; 30 minutos/dia), aplicada sete dias consecutivos. No grupo DTR foi administrada dieta normoproteica durante esse período e os demais mantiveram as dietas iniciais. A massa corporal foi mensurada inicialmente e a cada sete dias. Foi analisada a área da ferida no pós-operatório (PO) imediato, 4° e 8° dias PO, e determinado o Índice de Cicatrização da Úlcera (ICU). No 8º dia, após eutanásia, amostras de pele foram processadas histologicamente para mensuração da re-epitelização, espessura da epiderme e derme, contagem de fibroblastos e leucócitos, densidade de área de vasos sanguíneos e análise da birrefringência das fibras colágenas. Houve redução significativa no ganho ponderal dos animais desnutridos em relação aos controles após 45 dias e após o fim do período de EEAV, inclusive no grupo DTR. Todos os grupos apresentaram redução na área da ferida (p<0,05), porém o ICU não diferiu entre os grupos. Os grupos CT, DT e DTR apresentaram maior epitelização comparados ao C (p<0,05), e a medida de “effect size” mostrou que a desnutrição produziu um efeito positivo na re-epitelização. Já a espessura do epitélio foi menor nos grupos DC e DT em relação à C e CT (p<0,05) e o grupo DTR atingiu os valores de C e CT, apresentando espessura maior comparado ao DC (p<0,05). Na derme, houve redução na espessura do grupo DC em relação aos controles (p<0,05), enquanto DT e DTR mostraram valores equivalentes a estes. Os grupos DT e DTR apresentaram maior densidade de vasos comparados ao C (p<0,05), e, em relação ao perfil numérico das células, a média dos leucócitos não foi diferente entre os grupos, e a de fibroblastos foi significativamente maior nos grupos CT e DTR em relação ao DC, resultado semelhante ao apresentado pela birrefringência das fibras colágenas. Pode-se concluir que a desnutrição influenciou negativamente na epitelização da ferida, assim como na derme, promovendo um tecido pouco estruturado. A aplicação de EEAV e intervenção nutricional minimizaram os efeitos da desnutrição no processo cicatricial, resultando em epiderme e derme histologicamente mais estruturadas.

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