Resumo
Embora os exercícios físicos com alta intensidade possibilitem melhores resultados em diversos parâmetros de saúde, para a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) existem indícios de que intensidades mais baixas já sejam efetivas em alguns domínios desse constructo. Porém, as manipulações de intensidade não são claras sobre a QVRS em populações com obesidade. A presente pesquisa objetivou analisar efeitos do treinamento combinado não periodizado e com periodização linear na QVRS e em sua relação com indicadores antropométricos em adultos com obesidade. Foi conduzido um ensaio clínico controlado cego com adultos de 30 a 50 anos com obesidade (IMC≥30kg/m²), randomizados em três grupos: grupo controle (GC); grupo não periodizado (GN); e grupo com periodização linear (GP). Os grupos GP e GN foram submetidos a 16 semanas de treinamento combinado (aeróbio: 30 minutos; força muscular: seis exercícios). O GN realizou exercícios aeróbios de 50 a 59% da frequência cardíaca de reserva (FCres) e força de 10 a 12 repetições máximas (RMs). O GP iniciou o treino com 40 a 49% FCres e 12 a 14 RMs e, a cada quatro semanas aumentou progressivamente a intensidade (50-59% FCres e 10-12 RMs; 60-69% FCres e 8-10 RMs). A QVRS foi investigada pelo questionário SF-36, que é dividido em dois componentes: o físico inclui os aspectos físicos, capacidade funcional, dor corporal e estado geral de saúde, enquanto o mental é composto por aspectos emocionais, aspectos sociais; saúde mental e vitalidade. Foram realizados avaliações da composição corporal, sendo peso, estatura, perimetria de cintura, quadril e quantificação da massa magra e massa de gordura, pelo método de bioimpedância elétrica. Na estatística, empregaram-se correlações de Spearman e regressões lineares. Equações de Estimativas Generalizadas e diferenças absolutas (∆) foram adotadas na comparação inter e intra grupos após o treinamento. Foi adotado nível de significância de 5% utilizando do pacote estatístico SPSS, versão 21.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob parecer nº 2.448.674 e no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (ReBEC) sob o número RBR-3c7rt3. Foram analisados 69 sujeitos, sendo a razão cintura/estatura (β= -1,234; p=0,002) o único indicador antropométrico associado ao componente físico da QVRS, sem associações dos indicadores com o componente mental. Finalizaram a intervenção 36 adultos (GC=13, GN=9 e GP=14), obtendo-se diferenças significativas no componente mental (p=0,016) e no domínio de saúde mental (p<0,001) em prol do GN (∆=30,2; ∆=23,1, respectivamente). Ainda, foi observada diferença no tempo (p=0,007) para capacidade funcional, com aumentos nos grupos de treinamento (∆GN=10 e ∆GP=10). Apenas a massa magra (β=14,48; p=0,035) apresentou associação positiva com o componente físico da QVRS no GN após o treinamento. Conclui-se que, em adultos com obesidade, o treinamento combinado foi efetivo na melhora da QVRS, com ênfase do GN no componente mental e saúde mental. Todavia, não foi possível constatar uma associação entre melhorias do componente mental e os diferentes indicadores antropométricos analisados.